Saturday, July 10, 2010

Você

É como se lá no fundo eu buscasse encontrar você em um dos corpos aos quais me dou. Você, que nem ao menos usou palavras bonitas nem usou de gestos românticos. Você que surgiu do improvável e me conquistou com sorrisos, abraços, beijos e o seu sotaque ao dizer a palavra beijo. Você que vem e vai de uma forma fria, imprevisível e distante. Você que abraça apertado na chegada, mas não é capaz de me olhar nos olhos no momento de ir embora. Você que passa muito tempo dos meus dias longe das minhas horas, confusas sempre que penso em você. Você que quando me olha, me faz sentir aquela sensação de que "parece que foi ontem". Você que nem ao menos chegou, mas já é para mim um déjà vu. Você, você, você... Quem é você afinal? O que você sente? Por que você me toma como seu? Ou será que sou eu que me dou a você? E se não for eu o seu você, haverá outro você como eu?
E de mim eu já não posso falar tanto. Você me cala a voz em uma busca por um outro você que preencha a lacuna que você abre e deixa escancarada quando vai embora. Eu não tenho mais voz porque já estou cansado de tantos tus encontrados na minha busca por você. Hoje, porém, tenho a chance de voltar a falar... Mas será mesmo que de hoje eu terei um novo você?

Thursday, July 08, 2010

The matter of being Camumba

Dedicado a Maria Helena, por sua riqueza vocabular

Jantar no supermercado, abrir a mala do carro pra mostrar a potência do som recém-instalado, criar galinhas no quintal de casa em pleno centro urbano, entre outras atitudes semelhantes são definidas como camumbembagem.
O termo pode parecer estranho, mas se você imaginar a situação em que alguém, por não ter dinheiro para jantar, se aproveita dos salgadinhos postos para degustação no balcão da padaria do supermercado para matar a fome, você verá que o termo é verdadeiramente cabível. O problema não é a falta de dinheiro, não entendam como comentário burguês, mas o que torna a situação típica de um camumba é o fato de tal indivíduo fazer esse "jantar" e ainda oferecer (de boca cheia) a seu acompanhante, que diga-se de passagem é alguém que ele mal conhece. A situação, no mínimo inusitada, é motivo suficiente para fazer do "jantar" o último encontro dos dois.
Quanto ao som do carro, tudo ainda se torna pior se a musica for aquele forrozão insuportável e com uma letra literariamente "rica". Tudo que vem à cabeça é a imagem de um cantor com uma calça super justa se balançando e fazendo esforço para parecer que sabe cantar. E o barulho que causa dor aos ouvidos é apenas um detalhe na classificação de um exemplo de camumbembagem.
Mas o galinheiro no quintal da vizinha também é chocante. O barulho dos galos agrava a situação de seus donos camumbembes quando eles cantas às 2 da manhã, contrariando a ideia de que os galos cantam às 4 horas. O péssimo cheiro que você sente quando vai ao seu quintal também faz você detestar seus vizinhos camumbas.
Depois disso, difícil é conseguir dizer qual situação é a mais clássica de um camumba.

Um sopro de esperança


Aquela pobre mulher estava quase que por completo desiludida. Não acreditava mais em se vigor nem imaginava que um homem pudesse olhá-la com desejo novamente. Sozinha há muito tempo, ela tinha certeza de que seu destino estava traçado: solidão eterna e (muito) trabalho para acompanhar as noites frias de cama e coração vazios.
Enquanto se vestia, se perfumava e tentava achar o melhor penteado para uma tarde (pseudo)fria, não sabia que naquela tarde seria olhada novamente. Saiu para encontrar amigas e no passeio foi surpreendida pelo olhar de um homem simples e comum. Mas era um homem que a olhava e queria vê-la de verdade. Olhava para ela com um olhar de sede. Tinha vontade nos olhos. O coração da pobre mulher disparou. Não podia acreditar que estava sendo olhada com desejo novamente.
O homem, quase que abruptamente, tomou a iniciativa e pediu-lhe o número do telefone. O silêncio pairou enquanto ele roubava-lhe um beijo. Beijo até esquisito para quem jamais imaginou que voltaria a encostar os lábios nos lábios de um homem outra vez, muito menos naquela tarde.
Após o silêncio, eles tomaram seus caminhos. Pouco depois se falaram ao telefone e marcaram um encontro. Aquela mulher tomada de angústia e solidão foi tomada por ansiedade. Teria um encontro no dia seguinte, bastava que ele ligasse e teria um encontro no dia seguinte. Estava ansiosa e sentia em si um sopro de esperança.