Wednesday, August 06, 2008

Conversa Vitoriana de Padaria

Outra dia, assisti ao filme Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1995) como objeto de estudo para conhecer um pouco sobre a Era Vitoriana. Uma das cenas que mais me impressionou foi a cena na qual a mãe disse a suas filhas, personagens vividas por Emma Thompson e Kate Winslet, que quando não se tem sobre o que falar, deve-se falar sobre o tempo.
De fato, o diálogo da mãe com as filhas revela muito sobre o comportamento, sobre os tabus existentes naquela época. O que, entretanto, é mais interessante é o modo como os resquícios da Vitorian Age ainda estão presentes nos nossos dias.
Quando cheguei ao caixa da padaria, esta tarde, cumprimentei a funcionária (já velha conhecida, pois há anos compro pão nesta padaria) com um “tudo bem?”. O cumprimento costumeiro, hoje, e talvez várias outras vezes, foi seguido pelo meu comentário: “Este tempo maluco; ora faz sol, ora chove!”. Isso não lembra o que a mãe disse às filhas em Razão e Sensibilidade? Não poderia eu estar na mesma cena? Não! Eu não poderia estar lá, pois o filme é ambientado entre o fim do século XIX e o início do século XX – não lembro ao certo –, e eu, eu vivo no presente século XXI.
Mas enfim, o que tudo isso me disse foi que o presente tem mais do passado do que nós podemos imaginar. O presente é uma releitura de um passado e será relido por um futuro próximo. Estamos presos ao passado – é inevitável – e o nosso futuro estará preso ao presente de hoje.
Talvez seja hora de cuidar do presente e de tentar resgatar e guardar com carinho o passado que, ao contrário do que imaginamos, não está tão distante. Até quando se falará sobre o tempo quando não se tiver sobre o que falar?

Monday, August 04, 2008

Presentes

Queria um soneto, queria um romance, queria uma poesia...
Queria os beijos que o mundo pode dar e os abraços do Universo.
Queria uma epifania, queria uma fada madrinha, queria um sorvete de menta com chocolate.
Queria tudo, e nada.
Queria aquelas quatro letrinhas que deixam a pele mais bonita...

De véspera

Houve anos em que esperava ansiosamente pelo dia do meu aniversário. Nenhum dia no ano era tão significativo, tão importante quando o dia 5 de agosto, que, além de tudo, é feriado em João Pessoa.
Como sempre morei aqui, quando criança o dia era mágico, ou mágica era idéia de não ter que ir à escola. Eu ficava em casa, podia brincar com todos os brinquedos da minha caixinha. E também podia aproveitar os novos brinquedos que estavam chegando naquele dia. Eu via cada brigadeiro ser enrolado. Via o bolo de chocolate com cobertura de chocolate e, no fim da tarde, os parabéns. A família em volta da mesa para celebrar nada, mas a mim!
Os anos se passaram e, já não mais criança, a magia do aniversário de certo modo ainda existia. A ansiedade podia não ser a mesma, mas ela ainda estava ali. Mas foram anos, são anos que me separam daquela infância onde tudo era lúdico, tudo era celebração. Perdas, desavenças, angústias, frustrações... Tudo isso foi me levando embora as velhas borboletas que passeavam pelo meu estômago nos dias que antecediam o meu aniversário. Lá, o dia era marcado no calendário antes mesmo de o ano começar; cá, não vejo marcas na folhinha de agosto do meu calendário. Mas por que tudo mudou?
Hoje, me encontro à véspera de mais um aniversário. Não posso mentir e dizer que não me sinto um pouco ansioso. Sou egocêntrico e é bom ser o centro das atenções. Serão ligações, e-mails, scraps (que por sinal me aborrecem, pois acho fria essa forma de orkut-parabenizar). O dia ainda parará, ainda moro em João Pessoa...
Há dias e também agora, me sinto um pouco deprimido, nostálgico talvez. Por que lembrar de tudo em um único dia? Isso é tão Mrs. Dalloway... Mas não, ao contrário da personagem de Virginia Woolf, eu não queria dar uma festa e nem comprar eu mesmo as flores. Também não sei o que queria (a cada ano que passa tenho mais certeza de que sobre nada tenho certeza). A cada nova idade, tudo parece mais claro, ou seja, enxergo com os olhos mais velhos que tudo é incerto, que tudo tem dois lados.
Mas que bom! É verdadeiramente bom saber que, apesar de tudo, você está vivo e que, ainda que seja muito difícil acreditar, a esperança sempre existe, pois sempre existirá a possibilidade de se ser mais feliz; ou não.