Monday, March 29, 2010

Mas ele não sabe nada de Linguística


Porque a aquele cara olhava-se no espelho para enxergar seu corpo perfeitamente definido. Não tive tempo de olhar, ou apenas não quis. Sabia que ele estava ali e isso já me era o bastante. Talvez não tenha sido minha vontade ver para não mostrá-lo a admiração que ele buscava ao exibir-se. Não é mais de mim mostrar admiração deste tipo. Vê-lo e, permitir que ele sentisse a si mesmo como alguém visto e admirado, faria de mim apenas mais um no meio daqueles corpos ansiosos por definição física. Muito embora admirasse alguns dos corpos ali exibidos, não queria ser nenhum deles, pois eles não sabem nada sobre Linguística.
Mas saber que ele estava ali, exibindo seu corpo a si mesmo diante de um espelho enorme que tomava a parede por completo me causou dúvidas. Considerei que algumas coisas em mim devem estar erradas, ou pelo menos não devem estar certas. (E nesse ponto, insisto que não estar certo é diferente de estar errado!) Talvez a velocidade das coisas não esteja certa. Ou talvez seja a busca incansável por uma completude que cada vez mais me parece inatingível. Talvez esteja errada a crença infantil de que há felicidade completa. Talvez não esteja certo acreditar que se pode ter tudo e que ao nascer, nascemos para ter sucesso em tudo.
Porém, não deve ter sido só aquele cara frente ao espelho, foi mais que isso... Foram coisas que têm causado angústia e mostrado a necessidade de aprender (e buscar ajuda para isso) a se equilibrar nas cordas mais bambas de todas: as cordas de cada dia.
Lembro agora das dúvidas completas, das incertezas, das faltas e também do sucesso. Lembro do pó espalhado pelo chão do quarto e das roupas que precisam ser lavadas. Preciso apenas lembrar cada vez mais de mim.

Friday, March 12, 2010

O lugar onde tudo é verdade


Dizem que os sonhos são gerados a partir dos nossos medos e dos nossos desejos. Há pessoas que têm pesadelos que se repetem e atormentam a noite inteira de quem apenas quer e precisa descansar. Essas pessoas vão a médicos neurologistas, vão a psicólogos, vão a psiquiatras e, por fim, vão à farmácia. A concretude dos sonhos que nós temos é o que realmente atormenta, no caso dos sonhos ruins. Tudo é tão material que parece ser realidade o que nossa mente está projetando enquanto nós dormimos. Mas ao contrário dos sonhos ruins, os bons, aqueles que refletem nossos desejos recolhidos ou extremamente sentidos, parecem não querer permanecer demais. Os sonhos que, por serem quase tão concretos como a realidade, parecem não desejar saciar a nossa fome ou a nossa saudade. Eles vêm, de uma forma como queríamos que viessem, mas partem quando acordamos. Sem o sonho tudo volta a ser verdade e nossos desejos voltam a ser mentiras. É por isso que os sonhos são seguros e que é neles que encontramos lugar para que tudo se materialize em verdade.

Ontem eu sonhei com você. Um sonho lindo, e você chegava como eu queria. E eu via você, eu tocava você, e você me dizia as palavras que eu mais queria ouvir. Waking up was cruel because I couldn't see you by my side! And I had melancholy for breakfast this morning.

Monday, March 08, 2010

Farsa


Há sempre aquele momento em que a luta se torna falsa. Apesar da saudade rasgando o peito, não se desejava saber, não se desejava ouvir palavras que tornariam incertas as (falsas) certezas. Tudo isso porque dói perceber que não há estabilidade, mas sim a cruel instabilidade. Acreditar que se mudou de opinião e que, enfim, a luta à la Barroco chegou ao fim dando a vitória à razão é somente uma farsa.
Parece que como em uma transmissão de pensamentos ele diz sentir saudade quando é também saudade o que lhe faz questionar-se o motivo da ausência do outro. Parece que ele vem para marcar lugar, como se soubesse que o lugar corria perigo. Talvez nem corresse tanto perigo assim. É como se o lugar fosse dele e, mais que isso: no meio da perigosa rotina de viver o lugar pertence a ele. E lá se fora a "estabilidade". Mais que nunca é verdadeira a menina e suas incertezas e opiniões controversas...
Sonhar? Acreditar no futuro? "Um dia estaremos juntos, meu amor"? Isso tudo existe mesmo ou é tudo uma farsa? Embora seja ele o mais verdadeiro de todos é como se a lembrança e a saudade não fossem suficiente para torná-lo sumarento. Mas confiscando a vitória da razão, o desejo retorna e o quer, mais que nunca. Quer suas mãos, seus braços... Quer seu corpo o mais intensamente possível... Seria bem mais simples se fosse só uma questão de atravessar a rua.
Se fosse só atravessar a rua tudo não pareceria uma farsa. Perfeita seria a possibilidade de acreditar na farsa. Mas não! Não existem Senhores e Senhoras Smith. Não existe Mark Sloan. Derek Shepherd é também uma farsa. E não há por aí nem Fabrícios nem Cadus... Até mesmo Lucas e Ana perderam-se pelo meio do caminho provando que eles não eram realidade. Também Aquiles, Gael, Augusto, Leoni e todos os outros personagens são nada mais que papéis que morrerão após a última cena. E, assim, não há matéria consistente para o "tudo pode ser, só basta acreditar".
Tudo parece uma farsa. E se um não aceitou o seu convite, não há porque dizer ao outro que o lugar poderia deixar de existir, mas sim, que o lugar é dele... Parece, por fim, que dentro da maior farsa de todas está a verdade mais incontestável.

Tuesday, March 02, 2010

A voz da verdade


Porque a busca pelo entendimento silenciou a voz que dizia palavras infinitas. O tempo traz a verdade e a verdade traz o entendimento. Ou será ao contrário? Vai saber...
A verdade é que o tempo não pára (Cazuza foi muito feliz em sua colocação). As flores são plantadas, depois brotam e, por fim, morrem. A vida está sempre obedecendo a um movimento cíclico. As pessoas mudam. Mudam a forma de pensar e agir. Mudam os gostos. A vida muda e por mais que machuque as coisas que mais fazem sentido deixam de fazer sentido. E nada como o tempo para trazer a verdade. E a verdade deve, assim acredito, trazer o entendimento.
Os olhos azuis de quem você mais deseja talvez não brilhem mais como antes. As palavras são diferentes. O tom, embora não se escute, é diferente. O que era horas passa a ser dias. O que era dias passa a ser meses. E assim o tempo escorre como água rio a baixo levando as momentâneas verdades e abrindo caminho para as verdades definitivas.
E o sentimento de que tudo teve um fim. O sentimento de que não mais poderá ser o que já se foi. Os próprios atos de cada denotam a mudança. As ânsias de cada um mostram que para o entendimento basta mais um pouco de tempo.
Dói! Fere! Sangra! Mais duro ainda quando não se sabe o que poderia ter acontecido se os planos, os desejos tivessem se realizado. Haverá para sempre a dúvida e incerteza. Se era amor, se era paixão: dúvidas! E se era o grande amor da sua vida? Dúvida que será tirada antes do último suspiro de vida. Se foi o grande amor da sua vida: conformar-se, pois ser o amor da sua vida não garante que vá ser o seu amor para toda vida.
Mas é finito. Sente-se que é finito e acredita-se na necessidade de buscar além do que já se teve. E todas essas palavras que voltaram a ter voz por causa da verdade não passam de um pseudo entendimento. Não há ainda aceitação. Sabe-se, mas não se aceita.
As flores continuaram a ser plantadas e morrerão pouco depois de desabrochar. As águas continuarão a escorrer. As folhas dos calendários virarão lixo. Os olhos azuis brilharão para outros, mas não eternamente. A vida sempre, sempre mudará. A verdade virá; o entendimento, talvez. A saudade virá visitar de vez em quando, em temporadas como o brilho dos olhos azuis que estarão brilhando para outros. As lembranças... Essas fogem à ordem da vida e permanecem, para sempre.