Wednesday, December 15, 2010

A caminho de 2011 - Parte I

Dentre tantas coisas que ainda preciso fazer antes que este ano se acabe, pareceu-me extremamente necessário escrever minhas impressões sobre 2010.
Será que é um clichê dizer a frase: "parece que foi ontem que o ano começou!"? Pois bem, se for um clichê, fico neste lugar-comum, pois não há outra coisa a se dizer sobre o ano que termina. Ele foi mais que rápido, foi veloz de uma maneira que causou vertigem a quem tentava se equilibrar entre sentimentos, mudanças e decisões importantes. Faltam apenas 15 dias para que os fogos explodam e anunciem a chegada de 2011. Meu coração, ainda vertiginoso, treme de ansiedade e eu, ainda com muitos afazeres para 2010, corro para fechar as lacunas abertas, para cumprir os prazos, para fazer valer meu sentimento de ter vivido um dos melhores anos de minha vida.
Formei-me, comecei o Mestrado, passei em um concurso temporário, recebi excelentes propostas. Minha vida profissional deu uma guinada fascinante. Senti o valioso prazer de fazer o que faço, vi meu trabalho recompensado e, por mais que não tenha feito algumas coisas como eu gostaria (e deveria) ter feito, meu 2010 foi um ano reconhecedor de meu esforço e da minha vontade de prosperar.
Espero que o próximo ano continue próspero e que as conquistas não parem. Aliás, resta-me ainda a ansiedade por um resultado que pode ser determinante para o rumo que a minha vida vai tomar no próximo ano... Que os últimos dias de 2010 tragam os melhores resultados: os resultados que serão melhores para minha vida!
Estou trêmulo de ansiedade. Trêmulo como quando senti aquele beijo maravilhoso... Mas isso vai ficar para o próximo post.

Saturday, December 11, 2010

Na velocidade da vida


O ritmo alucinante que minha vida tomou me faz aparecer apenas para não perder o espaço. Faço questão de ter este lugar para me esconder entre meus mais íntimos paradoxos. Preciso de um lugar para depositar as dúvidas, as angústias e os desejos que surgem nas curvas da minha frenética caminhada rumo à felicidade. Os dias passam, muito acontece e muda tudo o que havia sido planejado anteriormente. E tudo isso é vida, no mais pleno significado da palavras.
...E quase que na velocidade de um piscar de olhos, mais um ano passou... E eu ainda me pergunto: aonde está o meu amor?

Saturday, October 23, 2010

I'll never forget this one night thing


Para quem eu cantaria uma valsa? Algumas pessoas já passaram pela minha vida como um relâmpago. Pessoas vindas de outros lugares, cada uma com sua vida em um lugar diferente do meu, impedindo que um algo mais acontecesse. Nunca cheguei a conhecer suas vidas na real, mas eu sempre estive aqui. Olhando para o passado, vejo que há tempos sinto meu coração disparar por transitórios amores de uma ou duas noites.
Um amor desses até me durou três encontros... Uma semana, depois quinze dias e, por último e como encerramento, apenas quatro dias. Lá atrás, já faz uns quase dez anos, alguém cruzou meu caminho em um ônibus no qual viajava. Naquele tempo eu nem entendia essas coisas de sentimento direito, mas hoje eu sei que as noites perdidas a lembrar das horas que passamos juntos naquele ônibus foram algo importante. Lembro seu nome, mas não trocamos qualquer contato. Perdemo-nos e talvez para sempre.
E agora eu lembro do mais recente encontro causado pelo acaso. Um certo alguém que me beijou durante um dia e meio, mas com um beijo que valeu mais a pena que todos os outros beijos já experimentados.
Parece que isso de amor presente não é muito para mim, ou talvez não faça o meu estilo amar alguém que não esteja a, pelo menos, uns 500 quilômetros de mim. E este deve ser um daqueles desabafos reflexivos que duram o tempo de dois filmes que se completam. Dois filmes que mexeram comigo de uma forma bem profunda. Talvez o desabafo dure o tempo que levarei para pensar, lá no meu futuro, no que poderia ter acontecido ao lado de cada um dos meus transitórios amores. Ou talvez a melancolia de minhas lembranças vá embora em algum momento "antes do pôr-do-sol" ou dure até uns minutos "antes do amanhecer".

Tuesday, September 07, 2010

Do começo ao fim


De Aluizio Abranches, o filme "Do começo ao fim" não tem efeitos especiais, nem nenhum detalhe que o torne uma mega-produção de cinema, mas toca, de uma forma suave, em duas "polêmicas": homossexualismo e incesto.
As polêmicas em torno do filme despertaram meu interesse e, após muito procurar na internet, consegui vê-lo. A dificuldade de achar o filme deve-se, certamente, às polêmicas. Não sei se algum dia a película foi exibida em salas de cinema, mas é claro que aqui em João Pessoa nunca houve sequer um cartaz dando nota sobre o filme.
Mas, de volta às polêmicas, me pergunto em que ponto uma polêmica deixa de ser assim caracterizada para dar lugar a um sentimento tão sublime como o amor. Muito embora não possamos retirar do filme a ideia de que todo amor é para sempre, a promessa de Francisco a Tomás nos dá algo de legítimo. "Uma coisa verdadeira e sumarenta", nas palavras de Clarice Lispector, que transborda pelas cenas do filme me faz querer aplaudir com as palmas da vida o trabalho de Aluizio Abranches por nos fazer desejar o amor.
Não nego, porém, que a ideia do incesto (no caso do filme, um amor entre meio-irmãos) ainda me causa um certo espanto. Ou melhor, causava! O filme não transforma o grau de parentesco, nem tão pouco o fato de dois belos homens serem homossexuais, motivo de preconceitos ou de dilemas existenciais. Os pais dos garotos Francisco (João Gabriel Vasconcellos) e Tómas (Rafael Cardoso) não pensam em levá-los a tratamentos psicológicos, ao contrário, é na atitude de Alexandre (de Fábio Assunção) que nós percebemos que deve haver esperança de que o mundo não esteja mais tão cheio de pessoas preconceituosas contra o amor.
O filme ainda aborda a delicada entrada de dois meninos "nas coisas da vida", nas palavras de Julieta, mãe dos garotos. Ela, Julieta, ícone de uma das mais belas histórias de amor já escritas, surge como coadjuvante, mas na suave, bela e tênue interpretação da grande Julia Lemmertz, se transforma em um exemplo de mãe. Uma mãe que ouve as notícias da saída de Collor da Presidência, ama seu marido frente ao espelho, e convive com o amor "íntimo demais" de seus dois filhos.
"Do começo ao fim" é, sem dúvida, uma grande obra. Envolto por uma trilha instrumental marcante, forte e sedutora, o filme passa esperança, mostra a possibilidade de se buscar a felicidade e o amor em suas diversas formas, desde que sejam essas formas as mais legítimas possíveis. E que bom! Que bom mesmo que o filme não cai nos lugares-comuns de tantos filmes do gênero.
Eu recomendo o filme, do começo ao fim!

Saturday, July 10, 2010

Você

É como se lá no fundo eu buscasse encontrar você em um dos corpos aos quais me dou. Você, que nem ao menos usou palavras bonitas nem usou de gestos românticos. Você que surgiu do improvável e me conquistou com sorrisos, abraços, beijos e o seu sotaque ao dizer a palavra beijo. Você que vem e vai de uma forma fria, imprevisível e distante. Você que abraça apertado na chegada, mas não é capaz de me olhar nos olhos no momento de ir embora. Você que passa muito tempo dos meus dias longe das minhas horas, confusas sempre que penso em você. Você que quando me olha, me faz sentir aquela sensação de que "parece que foi ontem". Você que nem ao menos chegou, mas já é para mim um déjà vu. Você, você, você... Quem é você afinal? O que você sente? Por que você me toma como seu? Ou será que sou eu que me dou a você? E se não for eu o seu você, haverá outro você como eu?
E de mim eu já não posso falar tanto. Você me cala a voz em uma busca por um outro você que preencha a lacuna que você abre e deixa escancarada quando vai embora. Eu não tenho mais voz porque já estou cansado de tantos tus encontrados na minha busca por você. Hoje, porém, tenho a chance de voltar a falar... Mas será mesmo que de hoje eu terei um novo você?

Thursday, July 08, 2010

The matter of being Camumba

Dedicado a Maria Helena, por sua riqueza vocabular

Jantar no supermercado, abrir a mala do carro pra mostrar a potência do som recém-instalado, criar galinhas no quintal de casa em pleno centro urbano, entre outras atitudes semelhantes são definidas como camumbembagem.
O termo pode parecer estranho, mas se você imaginar a situação em que alguém, por não ter dinheiro para jantar, se aproveita dos salgadinhos postos para degustação no balcão da padaria do supermercado para matar a fome, você verá que o termo é verdadeiramente cabível. O problema não é a falta de dinheiro, não entendam como comentário burguês, mas o que torna a situação típica de um camumba é o fato de tal indivíduo fazer esse "jantar" e ainda oferecer (de boca cheia) a seu acompanhante, que diga-se de passagem é alguém que ele mal conhece. A situação, no mínimo inusitada, é motivo suficiente para fazer do "jantar" o último encontro dos dois.
Quanto ao som do carro, tudo ainda se torna pior se a musica for aquele forrozão insuportável e com uma letra literariamente "rica". Tudo que vem à cabeça é a imagem de um cantor com uma calça super justa se balançando e fazendo esforço para parecer que sabe cantar. E o barulho que causa dor aos ouvidos é apenas um detalhe na classificação de um exemplo de camumbembagem.
Mas o galinheiro no quintal da vizinha também é chocante. O barulho dos galos agrava a situação de seus donos camumbembes quando eles cantas às 2 da manhã, contrariando a ideia de que os galos cantam às 4 horas. O péssimo cheiro que você sente quando vai ao seu quintal também faz você detestar seus vizinhos camumbas.
Depois disso, difícil é conseguir dizer qual situação é a mais clássica de um camumba.

Um sopro de esperança


Aquela pobre mulher estava quase que por completo desiludida. Não acreditava mais em se vigor nem imaginava que um homem pudesse olhá-la com desejo novamente. Sozinha há muito tempo, ela tinha certeza de que seu destino estava traçado: solidão eterna e (muito) trabalho para acompanhar as noites frias de cama e coração vazios.
Enquanto se vestia, se perfumava e tentava achar o melhor penteado para uma tarde (pseudo)fria, não sabia que naquela tarde seria olhada novamente. Saiu para encontrar amigas e no passeio foi surpreendida pelo olhar de um homem simples e comum. Mas era um homem que a olhava e queria vê-la de verdade. Olhava para ela com um olhar de sede. Tinha vontade nos olhos. O coração da pobre mulher disparou. Não podia acreditar que estava sendo olhada com desejo novamente.
O homem, quase que abruptamente, tomou a iniciativa e pediu-lhe o número do telefone. O silêncio pairou enquanto ele roubava-lhe um beijo. Beijo até esquisito para quem jamais imaginou que voltaria a encostar os lábios nos lábios de um homem outra vez, muito menos naquela tarde.
Após o silêncio, eles tomaram seus caminhos. Pouco depois se falaram ao telefone e marcaram um encontro. Aquela mulher tomada de angústia e solidão foi tomada por ansiedade. Teria um encontro no dia seguinte, bastava que ele ligasse e teria um encontro no dia seguinte. Estava ansiosa e sentia em si um sopro de esperança.

Sunday, May 16, 2010

Feirão de Homens

Em qualquer canto da cidade, despertando sempre uma grande movimentação, acontece diariamente, sete dias por semana, sem fechar durante os feriados (nem mesmo em dias santos), um grande feirão de homens das mais variadas espécies. Os preços variam de zero a um milhão de reais. Alguns não custam nada e os fabricantes ainda pagam para que os clientes os comprem. Outros homens, expostos nas prateleiras de mais difícil acesso nem sequer têm a etiqueta indicando seu preço, pois o valor não pode ser calculado. Nas festas e nos feriados, os preços sofrem alterações, pois grande parte do estoque entra em liquidação.
No feirão, vende-se à vista ou a prazo, e respeita-se sempre a situação financeira dos compradores. Sem consulta a SPC ou SERASA, os clientes podem transitar pelos corredores nos quais estão distribuídas as inúmeras prateleiras. Pode-se comprar em real, em dólar, em euro, em libra. Se você, cliente, for da Malásia, também será aceito o seu dinheiro, seja lá qual for a moeda de seu país.
Outro diferencial do feirão de homens é que você pode experimentar a maioria deles nas cabines espalhadas pelo grande centro comercial. E, ao contrário de certas lojas convencionais, você pode experimentar o produto mesmo se não estiver utilizando roupa íntima, pois no feirão de homens isso é até incentivado. Além disso, é possível comprar por unidade ou em quantidade, caso você queria revender ou manter um estoque.
Passear pelos corredores do feirão também pode causar dúvida, afinal, são muitos os tipos e tamanhos. Tem loiros, morenos e ruivos. Homens baixos e magros ou homens altos e fortes (e no feirão, o vice-versa sempre existe). Há os homens cheirando a perfume francês e também os homens que usam do cheiro natural. Há os cabeludos e os carecas, os sarados e os mais gordinhos. Há desde os homens que vestem terno àqueles que preferem camiseta regata e bermuda surfista. Há homens para todos os gostos. Nas prateleiras da frente, estão os narcisistas. Ao segundo corredor, vá se você quiser encontrar os mais tímidos. Já a zona periférica da loja exibe o modelo cafajeste. E no feirão é sempre indicado (e muito excitante!) começar da periferia para o centro, onde estão aqueles que são mais calminhos, mas que também são ótimos puladores. Há ainda, lá no fundo da loja, vários modelos de homens tradicionais, tantos que mal se equilibram na prateleira, como peças amontoadas forçando a porta de um pequeno armário. Esses tradicionais são mais indicados aos clientes com versatilidade.
O único problema encontrado no feirão acontece se você for procurar pelo modelo "homem dos seus sonhos", pois este modelo está, desde sempre, esgotado.

Saturday, May 08, 2010

Minha mera concepção de maternidade


Dedicado à maior mãe do mundo

Em conversa com a minha mãe, hoje pela manhã, ela me disse que dia das mães é todos os dias. Mais uma vez preciso concordar com minha geradora. A mãe é mãe todos os dias. Ser mãe deve ser uma daquelas profissões que levam trabalho (e muito) para casa. Para mim, uma mãe deve ser mãe em tempo integral.
Dedicação e afeto são, portanto, importantes componentes do amor materno que faz com que nossas heroínas vivam seus íntimos momentos sem deixar de pensar e agir da melhor forma para que nossos íntimos momentos também sejam os mais plenos de felicidade possíveis.
O que machuca no universo maternal (ou pelo menos na minha ideia do que é ser mãe) é ver que algumas mães não se importam com seus filhos e vivem como se nunca tivessem gerado nada. Toda mãe é responsável por seus filhos, não importa a idade, a classe social ou a raça. A mãe é eternamente responsável pelo que gera.
Mas não posso reclamar de falta de amor, ainda que o receba quase sempre silencioso. Não posso reclamar de falta de responsabilidade, pois não há no mundo mãe melhor que a minha. Mãe que supere, mãe que ultrapasse... Não há no mundo outra mãe que eu mereça. Nem muito menos que eu queira. Quero a minha sempre e a todo instante. Quero ouvir dela as coisas chatas que me deixam furioso. Quero ouvir dela as perguntas repetitivas que me deixam louco. Não poderia querer outra. E a ela quero todo, o maior bem do mundo.
Já tive, porém, a oportunidade única de ter duas mães. Maravilhosas as duas. E da que se foi eu sinto saudades. Muitas saudades todos os dias e hoje principalmente. A mãe que se foi, foi uma mãe grandiosa que, além de ser grandiosa, me deu ainda a amada mãe de quem sou fã, a quem devo tudo o que sou e para quem quero ser tudo o que eu quero ser.
Feliz dia das Mães a todas a mães que exercem brilhantemente tal função.
Feliz dia das Mães a minha mãe, única e imperfeita, louca e eficiente... Feliz dia das Mães ao meu espelho de humanidade, dignidade e amor.

Monday, May 03, 2010

Ele não sabe nada sobre Linguística (Continuação)

No melhor estilo romance policial, com enredo repleto de investigação, nossas palavras se cruzaram. Eu, no papel do investigador, buscando comprovar a minha tese de que ele não sabe nada sobre Linguística, direcionei perguntas objetivas. Sem falsa modéstia, fui didático em minhas questões e consegui o material de minha pesquisa.
Registro na continuação de dois textos anteriores o resultado de minha tese: "ele não sabe nada sobre Linguística at all".
Devo até ter me desviado de meu estilo de escrita neste espaço, mas acho que valeu a pena. A minha série íntima "Ele não sabe nada sobre Linguística" se encerra por aqui, com a informação de que ele busca saber algo que lhe dê um rumo na vida.


Ps: É fato, porém: He does know how to tempt me, mas hoje, sua quietude foi ainda mais interessante.

Friday, April 30, 2010

Ele não sabe nada sobre Linguística...

But he knows how to tempt me

Ele é aquele tipo que gosta de exibir o que, à primeira vista, tem de melhor: o corpo. Nem é tão bonito de rosto, mas seus braços e as divisões de seu abdômen lhe permitem não ter um rosto tão bonito.
Pela manhã, ele entra na academia portando a disposição que eu jamais terei. Ele faz alguns exercícios de alongamento e começa a trabalhar seu corpo. Tudo acontece como um ritual no qual ele é o deus a ser homenageado. Entre as partes do ritual, ele passa em frente aos espelhos espalhados pela sala de ginástica e se olha. Às vezes, levanta a camisa para enxugar a testa e acaba por deixar à mostra sua barriga sarada. Ou talvez, enxugar a testa seja mero pretexto para exibir o resultado dos abdominais feitos naquela máquina estranha (que a mim causa cansaço o simples fato de vê-la).
Mas hoje o silêncio rompeu-se. O cara, que continua sem saber nada de Linguística, vocalizou um cumprimento inesperado gerando tremor nas pernas de quem conhece a Linguística. É bem verdade que a Linguística ele não deve conhecer, mas ele soube muito bem como captar o olhar a ele devotado e utilizar-se desse conhecimento para provocar quem para ele olhou.
No fim da manhã, o cumprimento foi de despedida. O olhar do linguista continuou em direção a ele e as palavras do próximo ritual serão pragmaticamente intencionadas a descobrir sobre o que ele sabe. Confirmando-se que ele não sabe sobre Linguística, cumprirei meu papel de linguista e a ele tentarei apresentar as coisas da língua.

Friday, April 09, 2010

Tempo de hoje


É tudo uma questão de tempo. O tempo está correndo e é muito curto, não me sobra mais tempo. O tempo está passando e há tempos eu não o vejo. Sua lembrança é o que tem feito do meu tempo, um tempo menos doloroso. Ou será o contrário? Talvez sua lembrança de tempos atrás machuque ainda mais e arda sem parar em um peito que só tem tempo para sentir a saudade.
E hoje é mais um tempo na vida dele. Mas dói não estar junto a ele, ao menos pelo tempo de um beijo. É mais um tempo na vida e tudo me lembra que meu tempo é diferente do dele. É como se estivéssemos nos perdendo em nossos tempos íntimos e no tempo nosso em que não nos vemos.
Hoje é um tempo em que queria estar junto dele. Queria senti-lo, queria a certeza de que por um tempo eu não sentiria saudade. Mas, infelizmente, o hoje não é um tempo feliz e triste é a certeza de que por mais tempo sentirei sua ausência. Triste é sentir a dor que a saudade causa e, de tempos em tempos, parar para recolher os pedaços do meu coração. Coração marcado, surrado, fatalmente ferido pelo tempo da distância.

Monday, March 29, 2010

Mas ele não sabe nada de Linguística


Porque a aquele cara olhava-se no espelho para enxergar seu corpo perfeitamente definido. Não tive tempo de olhar, ou apenas não quis. Sabia que ele estava ali e isso já me era o bastante. Talvez não tenha sido minha vontade ver para não mostrá-lo a admiração que ele buscava ao exibir-se. Não é mais de mim mostrar admiração deste tipo. Vê-lo e, permitir que ele sentisse a si mesmo como alguém visto e admirado, faria de mim apenas mais um no meio daqueles corpos ansiosos por definição física. Muito embora admirasse alguns dos corpos ali exibidos, não queria ser nenhum deles, pois eles não sabem nada sobre Linguística.
Mas saber que ele estava ali, exibindo seu corpo a si mesmo diante de um espelho enorme que tomava a parede por completo me causou dúvidas. Considerei que algumas coisas em mim devem estar erradas, ou pelo menos não devem estar certas. (E nesse ponto, insisto que não estar certo é diferente de estar errado!) Talvez a velocidade das coisas não esteja certa. Ou talvez seja a busca incansável por uma completude que cada vez mais me parece inatingível. Talvez esteja errada a crença infantil de que há felicidade completa. Talvez não esteja certo acreditar que se pode ter tudo e que ao nascer, nascemos para ter sucesso em tudo.
Porém, não deve ter sido só aquele cara frente ao espelho, foi mais que isso... Foram coisas que têm causado angústia e mostrado a necessidade de aprender (e buscar ajuda para isso) a se equilibrar nas cordas mais bambas de todas: as cordas de cada dia.
Lembro agora das dúvidas completas, das incertezas, das faltas e também do sucesso. Lembro do pó espalhado pelo chão do quarto e das roupas que precisam ser lavadas. Preciso apenas lembrar cada vez mais de mim.

Friday, March 12, 2010

O lugar onde tudo é verdade


Dizem que os sonhos são gerados a partir dos nossos medos e dos nossos desejos. Há pessoas que têm pesadelos que se repetem e atormentam a noite inteira de quem apenas quer e precisa descansar. Essas pessoas vão a médicos neurologistas, vão a psicólogos, vão a psiquiatras e, por fim, vão à farmácia. A concretude dos sonhos que nós temos é o que realmente atormenta, no caso dos sonhos ruins. Tudo é tão material que parece ser realidade o que nossa mente está projetando enquanto nós dormimos. Mas ao contrário dos sonhos ruins, os bons, aqueles que refletem nossos desejos recolhidos ou extremamente sentidos, parecem não querer permanecer demais. Os sonhos que, por serem quase tão concretos como a realidade, parecem não desejar saciar a nossa fome ou a nossa saudade. Eles vêm, de uma forma como queríamos que viessem, mas partem quando acordamos. Sem o sonho tudo volta a ser verdade e nossos desejos voltam a ser mentiras. É por isso que os sonhos são seguros e que é neles que encontramos lugar para que tudo se materialize em verdade.

Ontem eu sonhei com você. Um sonho lindo, e você chegava como eu queria. E eu via você, eu tocava você, e você me dizia as palavras que eu mais queria ouvir. Waking up was cruel because I couldn't see you by my side! And I had melancholy for breakfast this morning.

Monday, March 08, 2010

Farsa


Há sempre aquele momento em que a luta se torna falsa. Apesar da saudade rasgando o peito, não se desejava saber, não se desejava ouvir palavras que tornariam incertas as (falsas) certezas. Tudo isso porque dói perceber que não há estabilidade, mas sim a cruel instabilidade. Acreditar que se mudou de opinião e que, enfim, a luta à la Barroco chegou ao fim dando a vitória à razão é somente uma farsa.
Parece que como em uma transmissão de pensamentos ele diz sentir saudade quando é também saudade o que lhe faz questionar-se o motivo da ausência do outro. Parece que ele vem para marcar lugar, como se soubesse que o lugar corria perigo. Talvez nem corresse tanto perigo assim. É como se o lugar fosse dele e, mais que isso: no meio da perigosa rotina de viver o lugar pertence a ele. E lá se fora a "estabilidade". Mais que nunca é verdadeira a menina e suas incertezas e opiniões controversas...
Sonhar? Acreditar no futuro? "Um dia estaremos juntos, meu amor"? Isso tudo existe mesmo ou é tudo uma farsa? Embora seja ele o mais verdadeiro de todos é como se a lembrança e a saudade não fossem suficiente para torná-lo sumarento. Mas confiscando a vitória da razão, o desejo retorna e o quer, mais que nunca. Quer suas mãos, seus braços... Quer seu corpo o mais intensamente possível... Seria bem mais simples se fosse só uma questão de atravessar a rua.
Se fosse só atravessar a rua tudo não pareceria uma farsa. Perfeita seria a possibilidade de acreditar na farsa. Mas não! Não existem Senhores e Senhoras Smith. Não existe Mark Sloan. Derek Shepherd é também uma farsa. E não há por aí nem Fabrícios nem Cadus... Até mesmo Lucas e Ana perderam-se pelo meio do caminho provando que eles não eram realidade. Também Aquiles, Gael, Augusto, Leoni e todos os outros personagens são nada mais que papéis que morrerão após a última cena. E, assim, não há matéria consistente para o "tudo pode ser, só basta acreditar".
Tudo parece uma farsa. E se um não aceitou o seu convite, não há porque dizer ao outro que o lugar poderia deixar de existir, mas sim, que o lugar é dele... Parece, por fim, que dentro da maior farsa de todas está a verdade mais incontestável.

Tuesday, March 02, 2010

A voz da verdade


Porque a busca pelo entendimento silenciou a voz que dizia palavras infinitas. O tempo traz a verdade e a verdade traz o entendimento. Ou será ao contrário? Vai saber...
A verdade é que o tempo não pára (Cazuza foi muito feliz em sua colocação). As flores são plantadas, depois brotam e, por fim, morrem. A vida está sempre obedecendo a um movimento cíclico. As pessoas mudam. Mudam a forma de pensar e agir. Mudam os gostos. A vida muda e por mais que machuque as coisas que mais fazem sentido deixam de fazer sentido. E nada como o tempo para trazer a verdade. E a verdade deve, assim acredito, trazer o entendimento.
Os olhos azuis de quem você mais deseja talvez não brilhem mais como antes. As palavras são diferentes. O tom, embora não se escute, é diferente. O que era horas passa a ser dias. O que era dias passa a ser meses. E assim o tempo escorre como água rio a baixo levando as momentâneas verdades e abrindo caminho para as verdades definitivas.
E o sentimento de que tudo teve um fim. O sentimento de que não mais poderá ser o que já se foi. Os próprios atos de cada denotam a mudança. As ânsias de cada um mostram que para o entendimento basta mais um pouco de tempo.
Dói! Fere! Sangra! Mais duro ainda quando não se sabe o que poderia ter acontecido se os planos, os desejos tivessem se realizado. Haverá para sempre a dúvida e incerteza. Se era amor, se era paixão: dúvidas! E se era o grande amor da sua vida? Dúvida que será tirada antes do último suspiro de vida. Se foi o grande amor da sua vida: conformar-se, pois ser o amor da sua vida não garante que vá ser o seu amor para toda vida.
Mas é finito. Sente-se que é finito e acredita-se na necessidade de buscar além do que já se teve. E todas essas palavras que voltaram a ter voz por causa da verdade não passam de um pseudo entendimento. Não há ainda aceitação. Sabe-se, mas não se aceita.
As flores continuaram a ser plantadas e morrerão pouco depois de desabrochar. As águas continuarão a escorrer. As folhas dos calendários virarão lixo. Os olhos azuis brilharão para outros, mas não eternamente. A vida sempre, sempre mudará. A verdade virá; o entendimento, talvez. A saudade virá visitar de vez em quando, em temporadas como o brilho dos olhos azuis que estarão brilhando para outros. As lembranças... Essas fogem à ordem da vida e permanecem, para sempre.

Saturday, January 23, 2010

De pele

Ao som de John Legend, a descoberta desta noite.

Cheiro a banho. Por debaixo da minha toalha mal colocada há um corpo que exala o cheiro do sabonete. Corpo recém-lavado. Corpo que saiu há pouco tempo de um encontro magnífico com suas próprias mãos que espalhavam deslizantemente o sabonete. Ouço música agora e espero alguma coisa. Não sei bem o quê, mas espero. Ouço a música, penetrando os meus ouvidos e imagino outros movimentos. E minha pele está macia. Pele de quem saiu do banho. Minha pele está, antes de tudo, limpa, pura. Estou nu, a esperar e a permitir que a música invada o meu corpo. Minha nudez cheira à espuma do sabonete que escorreu sobre cada pedaço do meu corpo. Minha nudez é limpa. É nudez de quem espera algo, mas não sabe o quê. Minha nudez não será castigada.

Tuesday, January 19, 2010

Algo sobre relacionamento


Relacionamentos constituem desde sempre uma importante marca, não apenas da humanidade, mas de tudo o que nos cerca. Nós nos relacionamos amorosamente com alguém que escolhemos, nos relacionamos com amigos, nos relacionamos com o balconista da padaria... Enfim, nós nos relacionamos e isso talvez seja uma das maiores verdades.
A grande verdade por dentro dos relacionamentos, porém, está na peculiaridade de cada um. Os limites da relação, o jeito de lidar com o outro, e até mesmo a necessidade que se tem de manter um determinado relacionamento são fatores que definem as redes de relacionamento das quais fazemos parte.
Se beijamos na boca, é uma relação física, que mais tem a ver com a intimidade entre dois que com a busca por serviços, como quando pedimos, por telefone, um botijão de gás e interagimos com a pessoa que está do outro lado da linha. Um aperto de mão (pelo menos no mundo ocidental) está muito ligado ao respeito. Quando entre dois homens e, principalmente se vier acompanhado de um abraço com tapinhas nas costas, pode indicar uma relação de amizade. E em meio a gestos e palavras características os relacionamentos constituem-se em qualquer lugar e a todo momento. Interação pura, atemporal e intencional!
Alguns relacionamentos são mais frequentes que outros. Quando moramos com outra(s) pessoa(s) a interação com essa(s) pessoa(s) é algo inevitável. Seja simples ou não, o relacionamento entre pessoas que vivem em um mesma casa é um dos relacionamentos mais frequentes de todos. (Dou um exemplo próprio: parei de escrever por alguns minutos porque minha adorável mãe bateu à porta para fazer mais uma de suas perguntas).
Voltando à frequência dos relacionamentos, também há alguns que não são tão frequentes e que se estabelecem, por exemplo, quando duas ou mais pessoas se encontram, mas que nem por isso deixam de ter seus gestos, olhares e frases típicas. Dois beijinhos para indicar uma maior intimidade: típico entre mulheres, entre um homem e uma mulher, e, nos últimos tempos, típico também entre homens. Um aperto de mão: típico de quando duas pessoas são apresentadas, ou quando há maior cordialidade. E no curioso campo dos relacionamentos até a buzina vira meio de cumprimentar o outro, mostrando as infinitas possibilidades de se relacionar e interagir com os outros. Torçamos para que as redes tecnológicas de relacionamentos não destruam a capacidade nossa de interagir.
Torçamos também para que um relacionamento não interfira no outro e que para tudo haja seu lugar. Torçamos para que além da capacidade de se relacionar, haja em nós também a capacidade de pôr limites àqueles com quem mantemos relacionamentos. Torçamos para que os amigos não briguem entre si por atenção, para que parentes não se confrontem pelo primeiro pedaço do bolo nos nossos aniversários e para que os namorados (as) de nossos(as) amigos(as) não interfiram no relacionamento com nossos amigos.

Thursday, January 14, 2010

Desejos


"Eles eram mais antigos que o silêncio"
Namorados no mirante,
Vinicius de Moraes

Porque te olhar me faz querer sentir teu beijo. Ver-te em frente a mim, me faz querer correr aos teus braços e ser envolvido por eles. Ouvir tua voz me faz querer ouvi-la novamente, só que em sussurros. Teus passos, indo e vindo, me fazem querer caminhar na estrada que leve ao teu desejo. Teus olhos, quando brilham, me trazem o desejo de descobrir quem tu és. Teu silêncio me faz querer descobrir o que tu queres. Pensar em te beijar, em estar em teus braços, em ouvir tua voz sussurada é quase como uma explosão dentro de meu eu inquieto. Desejar-te, por horas sem descanso, arrepia minha alma e faz sumir dentro de meu desejo insistente o medo de ser descoberto. Teus olhos, tua boca, tuas mãos... Teu corpo me faz arder em um desejo tórrido de atirar-me no teu precipício, e ter de ti o despertar de meus desejos.

Thursday, January 07, 2010

Acesas as chamas


Rumo ao fim da primeira semana de um novo ano, as expectativas e os desejos parecem estar acesos como nunca dentro do coração e da mente de todos. Uns se empenham para cumprir as metas traçadas nos últimos minutos do ano que acabou; outros, aguardam a vida trazer as novas esperanças para que as metas possam surgir.
Também é uma verdade indiscutível que para algumas pessoas as mágoas do ano passado ainda estão presentes, causando dor, muita dor. Deve ser normal. É, no mínimo, humano, pois a ilusão de que tudo muda quando o calendário é trocado não passa mesmo de uma doce ilusão, que se torna menos amarga na boca dos que sofrem e optam por fechar os olhos.
As angústias, as decepções, as frustrações... Todas continuam as mesmas. Não é o gesto de rasgar a folha de dezembro que faz tudo mudar. Não são as preces ou metas traçadas para o novo ano que carregam, como mar em ressaca de janeiro, aquilo que mais dói no peito de cada um. E cada um tem sua dor no peito. Pena que a virada da folha de dezembro também não se especializou em cardiologia...
Porém, para não agir com tanto pessimismo (porque a realidade para uns soa como pessimismo), pode-se ver que as chamas estão acesas através do bom e velho jargão: "Ano novo: vida nova". Não dá para entender muito bem esta frase feita. Vida nova só para quem acabou de nascer. A vida pode mudar, mas rejuvenescer: jamais! O tempo não é bumerangue!
Mas as chamas estão acesas e isso é o que importa. Com frase feita ou não, há no início de cada ano a presença do vermelho. Em países como o Brasil, onde é verão nesta época do ano, o calor do sol lembra a vermelhidão e anuncia que as chamas estão acessas e prontas para incendiar a vida de todos que decidem por traçar metas, que guiarão o ano que se inicia.
Então, vamos lá! Optemos por acender as chamas e mantê-las acesas. Optemos pelas ruivas nesse início de ano. Tornem-se ruivas nesse início de ano. Ou agarremos um ruivo nesse início de ano...