Sunday, July 20, 2008

A vida é poesia

É deveras estranho ou talvez absurdamente óbvio o fato de eu achar o mundo poético. Na verdade é como se cada dia fosse um verso; as etapas da vida, uma estrofe; e a vida inteira, um imenso poema. Sendo poesia, os tais versos da vida são livres e brancos, não seguem métrica nem rimam entre si. A vida tem uma melodia surpreendentemente construída sem rimas e sem arranjos poéticos. Não há nada de clássico. Há apenas um desejo que segue por entre as linhas. Existe desde o primeiro dia até o dia final um sentimento que não se traduz e que dificilmente alguém entenderá. Pois é, morremos e não entendemos o tal desejo, que sufoca, tira o fôlego, levando embora qualquer vestígio de ar.
Há momentos nos quais eu sinto estranho tudo o que pareceria óbvio. É uma sensação vaga, angustiante por ser vaga. Parece-me, certas vezes, que não sei o caminho, ou que não existe caminho. Por esta e aquela razões, parece-me que meu corpo está parado e que a vida perdeu o rumo.
Tudo, às vezes, é uma questão de sentir que se sente, mas por não enteder, sente-se que não há sentimento algum. É tudo um oco infinito. Um hole, pois em Inglês o som da palavra parece mais poético, e como disse no início, a vida me parece poesia.

Tuesday, July 08, 2008

Ainda sobre saudade


Hoje, quando eu estava no estacionamento da universidade, dentro do carro esperando a chuva passar, uma pessoa passou. Passou rápido, vi pelo retrovisor, mas trouxe lembranças intensas. Não sei se é porque essa pessoa já foi, um dia, muito especial para mim, ou se é porque uma sensação de tempo passado surgiu representada por sua imagem no retrovisor.
Verdade, sinto saudades de muitas coisas vividas naquele tempo: um tempo em que os problemas não eram tantos, as obrigações eram menores e a vida, embora parecesse complexa, era bem mais fácil de ser vivida. Sinto saudades dos corredores daquele lugar, das pessoas, das conversas tolas, sem proveito. Sinto saudades dos cochilos na aula de Física, da interação nas aulas de Português. Sinto saudades das aulas que matava pelos corredores que só agora percebo como eram amados.
Vivi tudo intensamente, senti com todo o meu coração a paixão por alguém que hoje apareceu-me pelo retrovisor. Oh! tolices de um jovem apaixonado que nem sabia o que era o amor.
Não! Não quero reviver paixões do passado, mas me sinto um tanto quanto cansado do meu presente tumultoado. Cansaço por ter que cuidar de mim mesmo, com responsabilidades que naquele tempo pensei que não existissem.
Mas a vida é curta, o tempo passa e as saudades vêm. E tudo, um dia, vai passar para sempre.

Monday, July 07, 2008

Encontrei a saudade!

Uma boa limpeza é necessária sempre. É preciso arrumar desde os livros espalhados sobre a mesa até os arquivos amontoados na memória do computador. Pois bem, estava eu vasculhando meu computador (e devo dizer esta experiência é quase como vasculhar um computador alheio, pois encontro tantas coisas das quais nem lembrava mais) e achei esse belo poema de Neruda:

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que
nos machuca, é não ver o futuro
que nos convida...

Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
"aquela que nunca amou."
E esse é o maior dos sofrimentos:

Não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...

Pablo Neruda