Wednesday, December 31, 2008

Um brinde aos próximos 365 dias


Passados mais 366 dias, cá estamos novamente. Parece que foi ontem que este ano, com um fevereiro de 29 dias, começou. Lembro-me ainda do dia 31 de dezembro de 2007. Agora 2008 está indo. Pois que vá!
Tantas coisas aconteceram. Foram sorrisos de vontades incontroláveis de sorrir. Foram muitas lágrimas que jorraram de olhos que não sabiam como não derramar seus rios. Ganhos e perdas, como sempre. Em alguns momentos a alegria não pôde ser contida. Houve também aqueles instantes em que o chão parecia se abrir para engolir os corpos que sobre ele tentavam se movimentar.
Perdi momentos mal aproveitados, perdi dinheiro com gastos desnecessários ou imprevistos. Perdi um relacionamento que agora está no passado. Perda difícil, pois nunca é fácil enxergar o fim! E também não foi fácil enxugar as lágrimas da mais dolorosa perda que esse ano trouxe. Ainda não é fácil lembrar e não sentir o queixo tremer. Mas que ela, a querida Maria, descanse em paz!
Conheci pessoas interessantes também. A forma de pensar sobre determinados assuntos mudou. Descobri a constante mutação. Amor já não é tudo e há sentimentos que vêm e têm o direito de vir, pois são algo do próprio ser. E como é gostoso falar sobre sentimentos com Maíra, Raíra e Isabel. Falar como ontem durante o jantar na casa de Isabel. Quantas cavilações! A começar pela redescoberta deste termo tão antigo. Mas não é bom olhar as antiguidades, Áurea?
2008 viu gritos e ouviu discussões. E daí vem o entendimento de que não é simples a tarefa de conviver com outras pessoas. Ainda assim, continuo gostando de gente, principalmente pessoas estranhas no melhor estilo Closer.
"Hello stranger!" também define a entrada rápida de alguém em uma vida que precisava sentir paixão. O ano começou com amor e termina com uma paixão incerta e, como sempre, complicada.
Reuniões e trabalhos na última hora com Marianne, a orientadora que orienta depois de desorientar. Correria, muita correria. Aulas para dar e aulas para assistir. Despedida de alunos queridos e pela primeira vez na vida de um jovem professor, a sensação maravilhosa de dever cumprido.
E quanta comida, hein?! Jantares, almoços, lanches rápidos. Desde um aniversário comemorado num restaurante chinês a um desejo de comer sushi que vai ficar para 2009. Andressa pediu Mc Donalds em seu aniversário. Eu também comi batata frita no Bebe blues...
Houve também as leituras que deixaram marcas neste coração. Desde uma insustentável leveza do ser ao conhecimento da Macabéa de Clarice Lispector em A hora estrela. E também filmes. O cinema este ano foi para mim algo que poderia ter sido mais. Não que os filmes tenham sido de má qualidade, mas é que eu queria ter ido mais ao cinema.
E no mundo, muita tristeza marcou 2008. A violência e a falta de amor destruiu muitas coisas verdadeiras. Chega a ser difícil acreditar no futuro. Todos precisamos mudar. Todos precisamos ser mais honestos com nossos sentimentos, pois o tempo está passando muito rápido.
Assim, entre idas e vindas, mais um ano se vai. Que venha o próximo. Aguardo um ano no qual muita coisa importante está para acontecer. Que seja bom e feliz como o sorriso do meu afilhado Igor! Sinto-me mais leve agora, o peso de 2008 já se foi quase que por completo. Resta pouco sobre minhas costas. Feliz Ano Novo!

Sunday, December 28, 2008

Relacionamentos antigos

Estive pensando nos últimos dias sobre relacionamentos do passado. Lembranças significativas de todos eles ficaram guardadas e, às vezes, surgem do lugar mais profundo da memória. São as lembranças boas na maior parte das vezes. A forma de dar carinho de cada uma dessas pessoas que ficaram no passado. O modo como o abraço era dado. O beijo. Até o sexo, se houve, vira lembrança. Nos momentos em que as recordações vêm à tona, nos depararmos com uma espécie de seleção de imagens e sensações é inevitável. Com a seleção, percebemos que algumas pessoas significaram mais que as outras. Talvez pelo tempo que o relacionamento durou ou pela intensidade do sentimento. De umas temos mais lembranças da atração física como se o desejo ou a forma de fazer sexo fosse o grande souvenir; de outras, vem o carinho, as palavras carinhosas... Nunca esquecerei do amor que você tinha por mim e de como me sentia protegido. (Você sabe que é para você que eu falei isso, não é?).
Mas o bom mesmo é perceber que a vida passa e modifica tudo, como se fosse um tufão, a vida realmente passa. Quando um relacionamento termina, parece que o mundo está indo junto; ou não. O tempo, por sua vez, traz outro relacionamento; ou não. E tudo se transforma em um grande ciclo. Ter lembranças belas, gostosas talvez seja o fator crucial para entendermos que a vida é como um tufão e assim, nos prepararmos melhor para quando o vento estiver soprando sobre nossos ossos. Fechar o coração não adianta, pois o vento precisa entrar. E fechar o coração pode ser fechar os olhos para novos amores.
Nada é para sempre, tudo termina e, por isso, é preciso aceitar que mesmo os relacionamentos que queremos que durem para sempre um dia se transformarão em passado. E o amor também não é tudo, é preciso mais para ser feliz ao lado de alguém.
Na verdade, estar ao lado de outra pessoa é algo que exige muito. Se você reconhece as suas manias e entende seu jeito de ser, você certamente perceberá o quanto é difícil equilibrar suas manias e seu jeito de ser com as manias e o jeito de ser de outra pessoa. É difícil e isso destrói a idéia de que os opostos se atraem. Os opostos só se atraem nas ciências exatas e o amor é a ciência mais inexata de todas.
Contudo, também não dá para negar que a tentativa de equilibrar-se com outra pessoa não é algo fascinante. No primeiro mês, aquilo de não saber nada sobre o outro, uma insegurança e um infinito medo de errar. Daí os meses vão passando e se a relação vingar a idéia de completar um ano de relacionamento causa aquele suspiro de "como passou rápido". Até que o fim chega. Machuca. Causa lágrimas e às vezes rancor. Mas também os momentos marcantes viram memórias que de vez em quando nos farão lembrar de todos os relacionamentos antigos. Dessas lembranças o que devemos concluir é que os relacionamentos do passado no passado devem ficar.

Thursday, December 25, 2008

Feliz Natal

Como todo ciclo, os anos sempre chegam ao fim. Os sinos de Natal vêm como que se encerra. Os supermercados cheios de gente, muitas compras. Para o comércio esta é a melhor época do ano. Muitos empregos temporários também surgem como um suporte para o grande movimento no comércio.
Mas onde estão aqueles sentimentos puros e serenos? Onde ficou o amor? Talvez esteja escondido nos pacotes de presentes. Talvez esteja dentro de cada presente trocado.
Particularmente, não sinto mais a magia desta data que todos acreditam ser mágica. Não sinto mais aquela sensação de ter sinos, assim como os que tocam nas matrizes, dentro de mim. Bate o sino na matriz, mas em mim não bate mais. Talvez isto seja ruim. Mas eu sei que estou bem e isso realmente importante. Por maiores difíceis que sejam alguns dias, por mais duros que sejam alguns momentos, eu sei que tudo tem uma essência que é boa, que é verdadeira. Há em tudo a possibilidade de se extrair um bom sumo. Acreditemos!
Feliz Natal!

Friday, December 19, 2008

A comer com os olhos


Pessoas comendo é uma das coisas que mais gosto de observar. Mais ainda se a pessoa observada for alguém que desperte o meu interesse de algum modo; fisicamente ou somente pelo modo como come, como pega os talheres, como movimenta a boca ao mastigar. Gosto de ver pessoas que mastigam movimentando todos os músculos da face. Não de uma forma exagerada, grosseira;mas sim de um modo suave, sensual. Acho que esses movimentos da face marcam atitude e fazem as pessoas se diferenciarem. O dançar da face durante a mastigação indica, talvez, que aquela pessoa é intensa e sente as emoções de forma verdadeiramente.
Restaurantes são, portanto, um lugar muito bom para que eu possa me deliciar com a imagem de pessoas comendo. Ontem até tive o prazer de ver alguém (que chamou a minha atenção pela beleza) comer de uma forma delicada e forte, com a face dançando... Que lindo!
Pode parecer loucura isso de gostar de observar pessoas comendo. O ato de comer envolve a boca, e, das partes que compõem a face, depois dos olhos, a boca é a mais atraente para mim. O modo como a boca se mexe desperta a minha atenção. Gosto de ver pessoas com boa dicção falarem e tenho prazer ao ver pessoas comendo como descrevi há pouco. É esse prazer que me deixa interessado e pode ser um dos motivos que fazem surgir em mim a vontade de experimentar a sobremesa com quem comeu e fisgou o meu olhar.
Ah, sobre os morangos... Morango é uma fruta muito erótica. Comer morangos é sensual; e se tiver chocolate, melhor ainda.

Thursday, December 18, 2008

Por estar perto demais

Há momentos na vida nos quais sentimos a real sensação de estar perto demais. Perto de qualquer coisa. Perto de tudo ou de nada. Perto demais dos sentimentos próprios que se colidem com os sentimentos dos outros. Que difícil este encontro!
Estar perto demais pode significar ver as coisas de uma maneira sóbria, com os olhos de alguém que viveu, que amou, que sentiu até onde não se pode mais sentir. Estar perto demais é intenso e mexe com as idéias... Seria, então, estar perto demais a mesma coisa que estar no limite da loucura? Talvez não, pois estar perto demais tem a ver com sanidade.
E, de fato, é maravilhoso estar perto demais. Poder sentir o coração do outro quando se está perto demais no sentido físico. Sentir o pensamento e compreender o que o outro sente quando se está perto demais no sentido emocional. E para os mais variados sentidos estar perto demais vem de um momento que passa a significar muito. Vem de um abraço de ano novo ou de um voto de feliz Natal.
Estar perto demais vem de uma conversa, que vem de um filme, que vem de um plano...
O que na tela era Closer me pôs perto demais, mesmo que por pequenos minutos, de quem eu mais queria estar perto.

Wednesday, December 17, 2008

Para não ficar sem palavras...

Especialmente a Andressa

Para que não faltem palavras a uma amiga muito doce, meiga, bondosa e querida, escrevo com todo o meu coração votos de felicidade, saúde e sucesso. Escrevo rápido e sem pensar muito, pois a pressa impede que palavras elaboradas surjam de minha mente. Mas escrevo com carinho e, pensando bem, melhores são as palavras vindas do acaso e do improviso.
Feliz 21, Dessa! O tempo está passando... Que bom! Melhor ainda (re)descobrir a todas as manhãs a beleza que tem o nascer do sol e enxergar a vida sempre com os olhos de uma pessoa que viveu, vive e deseja viver (sempre intensamente, não se esqueça!).
O mais carinhoso dos abraços...

Wednesday, December 10, 2008

Dia melódico

Dedicado a Áurea (pelo bilhete)


Hoje vivi um dia muito agradável. A chuva parece ter contido o calor que vinha maltratando os dias de todos. Sinto-me repleto de um sentimento que não sei descrever, mas que me inunda como há tempos não inundava. Apesar de terem batido no meu carro, me sinto bem. Apenas a placa foi amassada, sem maiores problemas, graças aos poderes superiores.

Descobri esses dias a banda Beirut. Gostei muito da mistura que eles fazem entre o folk e ritmos característicos da música do leste Europeu. As músicas são suaves, doces... A melodia faz o corpo ir, caminhar mansamente, e dá vontade de dançar. Para ser sincero, ainda não reparei nas letras, até agora estou preso na melodia.

Foi com a melodia na mente e com o barulho da chuva que eu acordei hoje de manhã. Tinha algo suave no ar, “verdadeiro e sumarento”, utilizando palavras de Clarice Lispector em Amor. Senti como se a vida fosse algo pleno e com muito a oferecer. Que bom acreditar!

Acreditei muito também no trabalho, dei aula pela manhã e à tarde. Não almocei em casa, passei o dia ocupado, mas com um sentimento de satisfação. Talvez seja o fato de que o ano está acabando. Essa coisa de fim de ano mexe muito comigo. Tem para mim um significado muito forte. É um ciclo que termina e anuncia um outro. É a dúvida e a possibilidade de sucesso, surpresa, amor... Que não venham lágrimas, pois no ano que termina eu perdi muito, e perdi algo que nenhum ganho pode cobrir.

Mas o que interessa é o dia de hoje. São algumas opiniões em constante mutação que dão sentido as linhas que escrevo. Ontem só pensava em instinto, e hoje eu queria um abraço. Abraço não é instinto, é o primeiro encontro íntimo de dois corpos, pois põe os corações em contato, ainda que por debaixo da pele. Abraço é pele, mas não é instinto.

O que também mudou foi a sensação térmica. Num relance, o frio passou e o corpo esquentou de novo. Isso é reação química. É paixão. Há pessoas que fazem seu corpo esquentar, enquanto suas mãos esfriam feito gelo. Se fosse para as mãos frias, a desculpa seria o “coitado” do vento, mas e para o calor?...

Está bem! Tudo está bem e espero que continue bem. Quero mais dias como esse (mas sem placa amassada). Quero digressões como as de hoje. Quero abraços... Quero um abraço em especial. E quero abraçar meus dias e fazê-los verdadeiramente meus, como que a dar algo de legítimo a eles. Quero, por fim, aquele sorriso que não sei o que significa, mas que desejo que seja meu.

Monday, December 08, 2008

Despidos


De repente eles se olham. Os corpos já denunciam o que querem. Então, sem nenhum pudor, os corpos se unem de modo feroz. Eles se beijam e fazem sexo. Um sexo que é apenas instinto, vontade. Não há sentimentos, não há nada retirado de romances românticos. Não há história de amor. Há dois corpos em brasa que buscam compensação para alguma coisa. Nem cortesia há.
Se houve prazer, a pele agradece e os dias tendem a ficar mais tranqüilos.

Wednesday, December 03, 2008

Tá quente ou tá frio?

Dedicado a Andressa (pelos elogios e pelo carinho)

Esses dias minha prima adolescente baixou no meu computador a música
Hot and Cold de Katty Perry. A música me parece apenas mais um desabafo adolescente de um garota deixada por seu namorado, mas o título...
Hoje eu estava voltando para casa às dez e meia da noite, pouquíssimos carros na rua, e de repente me lembrei do título dessa música. Percebi que ele muito tem a dizer (assim como todas as antíteses) sobre como a vida é construída. Tudo em uma balança que, às vezes pesa mais para um lado; às vezes, mais para o outro.
Pode ser, no que diz respeito ao sentir físico, o calor insuportável de uma tarde quente (tal qual a de hoje aqui na cidade) como o hot em questão, e, como o cold, a friozinho agradável da sala de aula (na qual o ar-condicionado é muito mais interessante que a aula propriamente dita). De repente a transição: calor - frio. Fácil, simples assim! Rápido!
Se é para falar de sentir psicológico... Nossa! Parece-me, em certas ocasiões, que o fogo que existe dentro de mim vai me levar à loucura! É o calor da vontade. Em outros momentos, quando algo não vai bem, bate um frio que atinge o âmago e congela a alma. É, talvez, a falta de vontade.
Pode ser também o calor com que certas palavras saem da boca de alguém e levam uma sensação hot para o corpo do outro. E, de outro lado, pode ser o frio das palavras não pronunciadas que faz com que a boca de alguém pareça uma pedra de gelo, enquanto um corpo se petrifica à espera de estímulos de um outro que, ironicamente, está cold.
Então já chega, prefiro o hot do café de minha mãe e o cold de uma coca-cola bem gelada.

Saturday, November 29, 2008

Um brinde de frase soltas a um corpo de esperança

Um encontro entre alma e corpo


De repente, não mais que de repente, um sopro de vida, uma esperança cruza o caminho de alguém que está no estacionamento. Tudo isso numa noite escura, meio fria e num estacionamento quase deserto.
E a esperança entra no carro e juntos os dois seguem sob uma atmosfera suave. Enquanto um dá o assunto da conversa; o outro se esforça para não errar a marcha do carro. Enquanto um fala mansamente e com propriedade sobre os assuntos que insere à conversa; o outro pensa em como seria perfeito se os dois corpos se unissem e se fizessem apenas um.
Uma esperança de paixão é o que entra pelos vidros abertos do carro, inundando tudo com a adrenalina que parte do corpo de um que se pergunta se também é adrenalina o que o outro exala. Os dois se olham por diversas vezes, um escuta os comentários do outro sobre arquitetura e sobre "politicagem". As vozes de ambos teimam em denunciar aquele "climinha" de um jogo de paixão no qual não há vencedor, mas apenas duas pessoas inteligentes o suficiente para lançar perguntas e comentários cada vez mais perspicazes. Como numa partida de pingue-pongue, enquanto um comenta o gosto do outro pelas saladas; o outro, por sua vez, comenta as mãos frias de um que não sabe onde pôr as mãos geladas e põe a culpa no vento. Coitado do vento...
Nenhum dos dois tem idéia de onde isso pode chegar, de qual será o desfecho dessa história apaixonante, excitante, perigosa. O que importa, na verdade, é que para um o sopro de esperança em uma paixão vem e o eleva... Coloca-o no ponto mais alto e lhe dá o direito de repetir mais uma vez a fala de Lisa do filme Paixão à Flor da Pele (Wicker Park): "... I feel beautiful tonight...". E de fato, indeed, ele se sentiu belo, extremamente belo, pois o cheiro de paixão no ar o deixava à flor da pele.

Wednesday, November 26, 2008

Um brinde de frases soltas a um corpo vazio

Uma alma sem corpo... Um corpo sem alma...


Pratos de comida que denunciam a gula. Barras e barras de chocolate e litros de coca-cola. Indícios diversos de uma ausência, de um vazio que busca incansavelmente ser preenchido.
Um telefone que não aguenta mais esperar para tocar, uma caixa de mensagens quase vazia (vazia, se não fosse as mensagens da operadora!!!). Músicas tocando... Against all odds, The blower's daughter e por aí vai... Um sono que não é apenas um descanso, mas também a fuga de uma realidade que não parece colorida. Um capítulo da história que teima em ser escrito em preto e branco. Mas se ao menos houvesse Charles Chaplin...
Um coração que espera e precisa, uma mente que sonha e um corpo que arde de tanto sentir frio. Se fosse num circo, o palhaço estaria sem picadeiro e o trapezista não teria mais seu trapézio. E não haveria equilibrista!
É como um vento frio num dia de brisa ou como muito calor num dia de verão. É a neve que insiste em cair num inverno frio. Mas se ao menos o setting fosse Nova York...
Gritos abafados, lágrimas presas, abraços soltos, beijos desencontrados. O in sem o out. Como sentimentos causam tanto estrago? Como pode não haver cor num filme tão criativo?
Um jardim sem flores ou simplesmente um sujeito separado por vírgula de seu predicado.
Ou talvez, letras desejando uma bela frase que lhes traga a segurança que somente algumas palavras podem dar.

Wednesday, November 19, 2008

Aceita um chocolate?

Os últimos dias têm sido muito quentes. A sensação é de que o mundo vai pegar fogo a qualquer momento. Isso me incomoda demais. Eu detesto calor! Para piorar, a temperatura elevada me tira do sério, me deixa nervoso, profundamente chateado e impaciente.
Hoje, além do fogo que parecia me rodear, o dia ainda foi recheado de melancolia, de coisas que me deixam insatisfeito, de pequenos aborrecimentos que juntos tomam proporções catastróficas, e de ausência... Vai saber que ausência é essa. Ontem fui ao shopping e fiz pequenas compras para acalmar um pouco a minha ansiedade (e, por outro lado, aumentar o saldo devedor do cartão de crédito!!). Aproveitei também o ar-condicionado do shopping como se aquilo me proporcionasse a fantasiosa impressão de que na verdade o mundo não está pegando fogo. E vi vitrines e mais vitrines. Comprei cds virgens, mas ainda fiquei aborrecido por não encontrar algum enfeite novo para pôr na minha árvore de Natal. E que Natal será este! Confesso que me aterroriza um pouco pensar que este ano nossa família já não está mais centrada, ou melhor dizendo, que nossa família já não tem mais o seu centro. E ontem, inclusive, seria seu aniversário... Que saudades da presença da minha avó-mãe!
E hoje... Bom, hoje eu fui ao Hiper Bompreço pagar uma conta. Aproveitei que tinha que ir para Intermares dar aula e parei lá. Caminhei um pouco por seus corredores (por um rápido instante tive vontade de fazer uma enorme feira!). Olhei a seção das cuecas, dos dvds e acabei comprando um creme dental e um chocolate suflair. O chocolate foi a melhor coisa do dia... Por um instante minha boca entrando em contato com o chocolate me deu um incontrolável prazer, como se eu estivesse tendo um orgasmo através do paladar. Mas como na maioria dos orgasmos masculinos, o feeling de prazer passou rápido e tudo voltou ao normal: o calor, a melancolia, os suspiros de meia satisfação. Senti-me como se o bonde da vida tivesse dado uma arrancada súbita e meu saco de tricô tivesse sido lançado ao chão. Da mesma forma que Ana (personagem do conto Amor de Clarice Lispector) senti que tudo era um fio partido.
E ainda estou sentindo... Sentindo a ausência de uma voz docemente sensual ao meu ouvido, de mãos firmes o suficiente para segurar os mantimentos contidos no meu saco de tricô, e da completude sentimental e física que só outro corpo pode oferecer. A ausência da paixão me dilacera!
Só agora me dou conta de que deveria ter comprado outro chocolate suflair.

Thursday, November 13, 2008

Cem vezes com sentimentos

Dedicado a Ana Adelaide
Antes de mais nada, quero justificar a dedicatória. Hoje eu tive o prazer de ler algumas crônicas desta brilhante professora a quem estou dedicando esta postagem. Ao ler as crônicas, tive sempre nítida a imagem de seu sorriso, como se ela estivesse me contando, pessoalmente, o que estava escrito em seu texto. Pela imagem e pela inspiração, resolvi fazer a dedicatória.
Esta é a minha centésima postagem neste blog. Entre os cem textos escritos aqui eu posso achar muito de mim mesmo. Posso matar as saudades de coisas que já ficaram no passado, posso revivê-las sentindo a mesma emoção de quando aconteceram. Posso lembrar também de frases, citações que para este espaço transcrevi. Posso olhar das primeiras postagens às últimas e redescobrir sonhos de um adolescente que se confundem com os sonhos de um homem jovem, que em muitas coisas não acredita mais. Há muitos sentimentos depositados nas letras que já escrevi... Quantas tristezas! Quantas paixões! Posso arriscar que minhas cem postagens são provas de pelo menos três paixões.
Ultrapassando os limites emocionais, eu posso, sem falsa modéstia, perceber o quanto amadureci como homem e também como um escritor. Eu sempre escrevi os meus sentimentos... Eu escrevo com o que sinto e mais nada. Mas, ainda assim, é preciso dizer que a forma como eu organizo minhas idéias hoje, as palavras que uso são diferentes das palavras que eu usava nas primeiras postagens. Acredito que devo isto às leituras que fiz ao longo dos últimos anos. Devo muito também - no que diz respeito ao modo como exponho meus sentimentos - às pessoas delicadas e sensíveis com as quais tive o imenso prazer de conviver. Ah, se o mundo inteiro tivesse a abstração de Eveline! Ah, se o mundo inteiro tivesse a delicada e deslumbrante sensibilidade de Ana Adelaide! E não vou esquecer... Não posso desconsiderar o toque da entorpecente racionalidade de Áurea.
Posso voar em minhas palavras. Sinto que minhas letras são como pássaros que voam alto, bem alto... E não me importo se serei lido ou não. A única coisa com a qual me importo é alcançar o horizonte de meus sentimentos mais íntimos.
Sentir me basta!

Sunday, November 02, 2008

Shakespeare que estava certo

Como já disse anteriormente, ontem eu encontrei alguém do passado... Parece-me deveras irônico encontrar um "defunto" na véspera do dia de Finados!!! Pensei sobre isso hoje e talvez tudo esteja muito bem arquitetado como num grande espetáculo teatral onde cada um dos vários personagens tem muito bem marcadas as suas entradas no palco da peça.
Nós somos personagens de uma história previamente escrita? Ou somos personagens de uma história que aos poucos toma forma? Por que tudo é tão brilhantemente perfeito? Por que cada entrada é tão perfeitamente ensaiada? Quando foi que nós ensaiamos as cenas dessa vida tão incerta?
E continuo me perguntando... Por que após o ensaio nós não corrigimos as falhas antes que elas fossem ao ar?
Não sei responder as íntimas questões que trouxe hoje, só sei que acredito nas palavras de Shakespeare: "All the world is a stage".

Como no mito do eterno retorno

É bem verdade que o tempo carrega sentimentos e faz com que algumas dores sejam curadas. Mas quem pode garantir que o passado não mais se colocará a sua porta?
O passado pode aparecer no seu caminho e fazer você dar a volta. Uma volta ao que está preso ao passado, ao sentimento que estava deixado de lado. Pior ainda é perceber que nada do passado mudou. É como se, não havendo prazo de validade, o que já foi tivesse sido guardado na geladeira para ser descongelado depois. Oh, ponto de ônibus, como assumiste bem o papel de um microondas!!!
E dar a volta esteve além do simbólico... ou além do concreto... Não sei! Sei que uma marca intensa do passado cruzou meu caminho e trouxe muitas lembranças. Uma visão real puxou visões imaginárias de cenas de um pretérito imperfeito, por não ser acabado.
Um passado louro, que continua reluzindo como o sol.

Saturday, October 04, 2008

Metáforas

"... as metáforas são perigosas. Não se brinca com as metáforas. O amor pode nascer de uma simples metáfora". (Milan Kundera)

Tuesday, September 30, 2008

Fluxo de vida

Os dias seguem e a vida assustadoramente se repete. É como o mito do eterno retorno. O presente é apenas o passado modificado, ou repaginado, para usar um termo atual.
As pessoas são as mesmas, os conflitos também. Os mesmos conflitos se diferenciam pelas pessoas que os vivem. Já as mesmas pessoas são diferentes pelos conflitos que enfrentam. Mas tudo gira em círculo.
Haverá sempre aquela sensação de 'eu já estive aqui'. Haverá sempre aquilo de já ter visto alguém em outro lugar. Poucas muitas pessoas aparecerão em nossas vidas. Algumas delas surgirão e de algum modo criarão laços conosco. Outras, por sua vez, não aparecerão mais que uma vez e nós teremos que viver com uma solitária dúvida, sem saber se aquela pessoa ainda existe.
Não importa onde você esteja. Há sempre um infinito de fatos sucessivamente se repetindo. Se você está no Iraque, talvez veja bombas... Se está em Nova York no fim de ano, certamente verá neve... Mas não importa onde você esteja, pois as mesmas coisas sempre acontecerão e nenhum de nós poderá jamais alterar a correnteza da vida.

Sunday, September 28, 2008

Surpresas

Nunca gostei muito de feijão.
Quando eu era criança, eu não gostava da casquinha, queria apenas a massa. Mas também não dava para pedir que alguém tirasse aquela casquinha e me desse apenas a massa que eu suportava comer.
Vejo que na vida há sempre preferências por massas ou por cascas. Às vezes, você deseja muito uma coisa e acredita que ela só possa estar em um determinado lugar ou que só a massa possa ser saborosa. E é difícil desconstruir idéias, conceitos previamente estabelecidos.
É como se você acreditasse que o cachorro é o animal que toma conta da casa e o gato é aquele que roça em suas pernas o tempo todo, sem jamais pensar que o gato também pode proteger e que o cachorro também pode roçar em suas pernas. Tudo que foge ao que nós acreditamos é surpresa e, algumas da surpresas que a vida nos traz são muito boas.
Mas esperar a surpresa??? Talvez esteja aí uma grande dificuldade nossa... As surpresas simplesmente são surpresas e não marcam hora no dentista nem no salão de beleza. A surpresa vem determinada por uma decisão que você toma em um segundo. É algo tão rápido que você só se dá conta depois que aconteceu. Mas é tão intenso quanto o prazer da música favorita. E é forte quanto o abraço que você mais desejou.
Eu desejei abraços que vieram da surpresa.
A partir de agora eu tentarei não separar a casquinha da massa. Minha surpresa pode estar na completude do feijão.

Wednesday, September 03, 2008

Hoje

Hoje passei o dia me sentindo cansado. Um cansaço físico... minhas pernas estavam pesando. Um cansaço mental... a cabeça pesava, os pensamentos pesavam. E além disso, ainda a terrível sensação de vazio, "aquilo" de algo incompleto...
Hoje foi um dia daqueles nos quais você consegue se agüentar.
Preciso de férias, preciso de colo, preciso de um tempo marcado para mim. Preciso passear no shopping, comprar besteira, tomar sorvete como se nada estivesse acontecendo lá fora.
Sinto que preciso tanto que minhas carências fazem com que eu não saiba de mais nada.
Preciso de um casaco de lã para o meu coração.

Wednesday, August 06, 2008

Conversa Vitoriana de Padaria

Outra dia, assisti ao filme Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1995) como objeto de estudo para conhecer um pouco sobre a Era Vitoriana. Uma das cenas que mais me impressionou foi a cena na qual a mãe disse a suas filhas, personagens vividas por Emma Thompson e Kate Winslet, que quando não se tem sobre o que falar, deve-se falar sobre o tempo.
De fato, o diálogo da mãe com as filhas revela muito sobre o comportamento, sobre os tabus existentes naquela época. O que, entretanto, é mais interessante é o modo como os resquícios da Vitorian Age ainda estão presentes nos nossos dias.
Quando cheguei ao caixa da padaria, esta tarde, cumprimentei a funcionária (já velha conhecida, pois há anos compro pão nesta padaria) com um “tudo bem?”. O cumprimento costumeiro, hoje, e talvez várias outras vezes, foi seguido pelo meu comentário: “Este tempo maluco; ora faz sol, ora chove!”. Isso não lembra o que a mãe disse às filhas em Razão e Sensibilidade? Não poderia eu estar na mesma cena? Não! Eu não poderia estar lá, pois o filme é ambientado entre o fim do século XIX e o início do século XX – não lembro ao certo –, e eu, eu vivo no presente século XXI.
Mas enfim, o que tudo isso me disse foi que o presente tem mais do passado do que nós podemos imaginar. O presente é uma releitura de um passado e será relido por um futuro próximo. Estamos presos ao passado – é inevitável – e o nosso futuro estará preso ao presente de hoje.
Talvez seja hora de cuidar do presente e de tentar resgatar e guardar com carinho o passado que, ao contrário do que imaginamos, não está tão distante. Até quando se falará sobre o tempo quando não se tiver sobre o que falar?

Monday, August 04, 2008

Presentes

Queria um soneto, queria um romance, queria uma poesia...
Queria os beijos que o mundo pode dar e os abraços do Universo.
Queria uma epifania, queria uma fada madrinha, queria um sorvete de menta com chocolate.
Queria tudo, e nada.
Queria aquelas quatro letrinhas que deixam a pele mais bonita...

De véspera

Houve anos em que esperava ansiosamente pelo dia do meu aniversário. Nenhum dia no ano era tão significativo, tão importante quando o dia 5 de agosto, que, além de tudo, é feriado em João Pessoa.
Como sempre morei aqui, quando criança o dia era mágico, ou mágica era idéia de não ter que ir à escola. Eu ficava em casa, podia brincar com todos os brinquedos da minha caixinha. E também podia aproveitar os novos brinquedos que estavam chegando naquele dia. Eu via cada brigadeiro ser enrolado. Via o bolo de chocolate com cobertura de chocolate e, no fim da tarde, os parabéns. A família em volta da mesa para celebrar nada, mas a mim!
Os anos se passaram e, já não mais criança, a magia do aniversário de certo modo ainda existia. A ansiedade podia não ser a mesma, mas ela ainda estava ali. Mas foram anos, são anos que me separam daquela infância onde tudo era lúdico, tudo era celebração. Perdas, desavenças, angústias, frustrações... Tudo isso foi me levando embora as velhas borboletas que passeavam pelo meu estômago nos dias que antecediam o meu aniversário. Lá, o dia era marcado no calendário antes mesmo de o ano começar; cá, não vejo marcas na folhinha de agosto do meu calendário. Mas por que tudo mudou?
Hoje, me encontro à véspera de mais um aniversário. Não posso mentir e dizer que não me sinto um pouco ansioso. Sou egocêntrico e é bom ser o centro das atenções. Serão ligações, e-mails, scraps (que por sinal me aborrecem, pois acho fria essa forma de orkut-parabenizar). O dia ainda parará, ainda moro em João Pessoa...
Há dias e também agora, me sinto um pouco deprimido, nostálgico talvez. Por que lembrar de tudo em um único dia? Isso é tão Mrs. Dalloway... Mas não, ao contrário da personagem de Virginia Woolf, eu não queria dar uma festa e nem comprar eu mesmo as flores. Também não sei o que queria (a cada ano que passa tenho mais certeza de que sobre nada tenho certeza). A cada nova idade, tudo parece mais claro, ou seja, enxergo com os olhos mais velhos que tudo é incerto, que tudo tem dois lados.
Mas que bom! É verdadeiramente bom saber que, apesar de tudo, você está vivo e que, ainda que seja muito difícil acreditar, a esperança sempre existe, pois sempre existirá a possibilidade de se ser mais feliz; ou não.

Sunday, July 20, 2008

A vida é poesia

É deveras estranho ou talvez absurdamente óbvio o fato de eu achar o mundo poético. Na verdade é como se cada dia fosse um verso; as etapas da vida, uma estrofe; e a vida inteira, um imenso poema. Sendo poesia, os tais versos da vida são livres e brancos, não seguem métrica nem rimam entre si. A vida tem uma melodia surpreendentemente construída sem rimas e sem arranjos poéticos. Não há nada de clássico. Há apenas um desejo que segue por entre as linhas. Existe desde o primeiro dia até o dia final um sentimento que não se traduz e que dificilmente alguém entenderá. Pois é, morremos e não entendemos o tal desejo, que sufoca, tira o fôlego, levando embora qualquer vestígio de ar.
Há momentos nos quais eu sinto estranho tudo o que pareceria óbvio. É uma sensação vaga, angustiante por ser vaga. Parece-me, certas vezes, que não sei o caminho, ou que não existe caminho. Por esta e aquela razões, parece-me que meu corpo está parado e que a vida perdeu o rumo.
Tudo, às vezes, é uma questão de sentir que se sente, mas por não enteder, sente-se que não há sentimento algum. É tudo um oco infinito. Um hole, pois em Inglês o som da palavra parece mais poético, e como disse no início, a vida me parece poesia.

Tuesday, July 08, 2008

Ainda sobre saudade


Hoje, quando eu estava no estacionamento da universidade, dentro do carro esperando a chuva passar, uma pessoa passou. Passou rápido, vi pelo retrovisor, mas trouxe lembranças intensas. Não sei se é porque essa pessoa já foi, um dia, muito especial para mim, ou se é porque uma sensação de tempo passado surgiu representada por sua imagem no retrovisor.
Verdade, sinto saudades de muitas coisas vividas naquele tempo: um tempo em que os problemas não eram tantos, as obrigações eram menores e a vida, embora parecesse complexa, era bem mais fácil de ser vivida. Sinto saudades dos corredores daquele lugar, das pessoas, das conversas tolas, sem proveito. Sinto saudades dos cochilos na aula de Física, da interação nas aulas de Português. Sinto saudades das aulas que matava pelos corredores que só agora percebo como eram amados.
Vivi tudo intensamente, senti com todo o meu coração a paixão por alguém que hoje apareceu-me pelo retrovisor. Oh! tolices de um jovem apaixonado que nem sabia o que era o amor.
Não! Não quero reviver paixões do passado, mas me sinto um tanto quanto cansado do meu presente tumultoado. Cansaço por ter que cuidar de mim mesmo, com responsabilidades que naquele tempo pensei que não existissem.
Mas a vida é curta, o tempo passa e as saudades vêm. E tudo, um dia, vai passar para sempre.

Monday, July 07, 2008

Encontrei a saudade!

Uma boa limpeza é necessária sempre. É preciso arrumar desde os livros espalhados sobre a mesa até os arquivos amontoados na memória do computador. Pois bem, estava eu vasculhando meu computador (e devo dizer esta experiência é quase como vasculhar um computador alheio, pois encontro tantas coisas das quais nem lembrava mais) e achei esse belo poema de Neruda:

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que
nos machuca, é não ver o futuro
que nos convida...

Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
"aquela que nunca amou."
E esse é o maior dos sofrimentos:

Não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...

Pablo Neruda

Monday, June 30, 2008

Epifania definitiva

Acredito que todos nós um dia já tivemos (e se não tivemos, teremos um dia) a surpreendente e cruel descoberta de que caminhamos para o fim. Para mim, não sei se tal reflexão veio cedo ou tarde. Sei, porém, que desde que assisti, há algumas semanas atrás, ao documentário "Nós que aqui estamos, por vós esperamos", do diretor Marcelo Masagão, que comecei a entrar neste canal de pensamento. O documentário é uma espécie de retrospectiva do que foi o século XX, com todas as suas glórias e, principalmente, com todas as suas desgraças; e na última cena do filme, o diretor traz uma sacada inteligentíssima sobre o que é a vida e nos mostra que o fim do caminho que percorremos durante toda a vida é o fim, literalmente.
Mas as recordações, as reflexões que tive a partir do filme foram ficando guardadas, adormecidas; muito embora tenham sido responsáveis por uma forte descarga emocional. No último sábado, tudo veio à tona. De maneira forte e avassaladora, a idéia do fim surgiu em meus pensamentos sob um fluxo de consciência. E o mais engraçado de tudo isso é que as águas que me afundaram neste fluxo foram trazidas pelo espelho do meu banheiro.
Após o banho, olhei-me no espelho e percebi que, por mais que ainda tenha um rosto jovem, este já é bem diferente do rosto daquele menino que lá no fim do século XX esperava pelo ano 2000, quando completaria 13 anos. Percebi que meu rosto ainda mudará muito, virão as rugas, as marcas do tempo... A pele não será a mesma por mais dinheiro que eu gaste com cremes e produtos contra envelhecimento. Nenhuma cirurgia deixa cicatrizes tão acentuadas quanto o tempo!
Vi por aquele espelho todas as minhas preocupações e angústias. Vi as desilusões, vi a correria do dia-a-dia maluco que levo. Vi a face de alguns professores que muito exigem, vi a face de alguns alunos que muito aborrecem. Vi as exigências, os prazos. Ouvi as lágrimas de uma vida repleta de dificuldades e decepções. Senti o sabor amargo das frustrações de um homem que, embora esteja prestes a completar vinte e uma primaveras, já perdeu muito, já chorou muito, e que de certo modo sente as costas doerem como se nelas estivessem depositadas mais de trinta primaveras.
E no mais profundo instante do meu momento epifânico, enxerguei pelo espelho a coisa mais cruel que meus olhos já enxergaram: vi que nada importa! Não importa o que façamos, o quanto nos preocupemos, o quanto soframos ou choremos. Não importa o quanto trabalhemos, nem o quanto em cremes anti-rugas gastemos. A trilha que seguimos é única e muito estreita. E é ela que levará todos nós ao clímax do romance da vida: a morte!

Thursday, June 12, 2008

"I will always love you somehow"

Thursday, June 05, 2008

Cheers!

"Meu corpo é a taça para um vinho já derramado". (J.M. Júnior)



Queria beber uma taça de vinho apenas. Sentir o gosto suavemente pela minha boca e depois repousar na certeza do infinito...

"To look life in the face, always, to look life in the face. And to know it, for what it is, and at last to love it, for what it is, and then, to put it away...
Always the years between us, always the years... always, the love... always, the hours". (Virginia Woolf)

Today

Fui à cozinha depois de acordar e, pela janela, vi o sol... Enfim um dia sem chuva, um pouco mais quente até. Pelo menos a temperatura está agradável.
Mas ainda há muito gelo se derretendo dentro das veias da alma...

Wednesday, June 04, 2008

Porque já não há

Porque os nossos passos caminham ao relento sobre folhas secas... Tudo ao redor parece está seco como as folhas caídas ao chão. As árvores perderam o verde; os frutos, já nem lembro se um dia existiram... Se é escuro lá fora; aqui dentro, tudo é névoa... Não há flores. E mesmo se houvesse, não haveria Mrs. Dalloway para comprá-las. As flores murchariam sem que ninguém ao menos as tivesse regado.
E a névoa? Ela está cobrindo tudo, tirando a visão e todos os outros sentidos estão perturbados. Não se sente o cheiro das manhãs, não se sente o gosto do chocolate, não se ouve a melodia do vento, não se sente a textura da face amada, não se vê mais o brilho da lua.
Também não sei se haverá primavera, pois as plantas parecem não querer se mover. Os galhos secos apenas gritam, com vozes desesperadas, e imploram, ardentes e congelados, que algum raio os parta de uma vez. E os gritos ecoam... Tão forte que se ainda houvesse audição, certamente os tímpanos explodiriam.
E já não há xícaras de café deixadas sobre a mesa, não há folhas espalhadas por uma mesa de madeira velha, não há sons, não há desejos, não há súplicas ou declarações de um amor eterno. Não há nada de real porque só ficaram as fantasias de uma primavera florida, de uma mesa de madeira nova com as belas flores postas no mais belo vaso de porcelana... Ficaram fantasias de flores que nunca serão compradas.

Sunday, April 06, 2008

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius de Moraes

Friday, March 28, 2008

Língua Viva

Queria poder falar a língua do amor. Queria, simplesmente, dominar mais este idioma, pois a mim, já não basta “Eu te amo”, “I love you”, “Ich liebe Dich”, “Je t’aime”, nem qualquer outra forma que sirva apenas para declarar algo que não sei pronunciar...
Não conheço ou não entendo? Há estratégias de leitura? Não sei de onde vem a morfologia, a fonologia, nem tão pouco compreendo os campos semânticos desta de língua cuja fonética é tão irregular.
Suplico-lhes, tão grandes teóricos da linguagem, que desvendem a misteriosa sintaxe do amor.

Friday, March 21, 2008

Melancolia em Recife

Há semanas não escrevo nada aqui, mas hoje, a manhã de chuva e a visão de um céu repleto de nuvens, cinzento, me fizeram refletir sobre muitas coisas. Perdas, dúvidas, erros e acertos, há tanto para pensar. Deve ser por isso, que senti uma forte dose de melancolia.
E pela janela, continuo vendo um céu cinzento aqui na capital pernambucana.

Thursday, February 14, 2008

Piloto automático de mim

Minha alma está doendo! Tudo dentro de mim está fora de ordem. Meus sentidos não sentem como se deve sentir. Meu corpo não reage como eu queria que reagisse. Estou numa espécie de "piloto automático de mim". Queria gritar, mas não consigo. Queria chorar, às vezes até consigo, mas as lágrimas já são poucas. Em alguns instantes, é desespero; noutros, anestesia. Sim, anestesia! O corpo não responde como se estivesse anestesiado. Preciso voltar a pilotar eu mesmo o meu existir.

Tuesday, February 05, 2008

Adeus

Só agora estou conseguindo escrever sobre um dos momentos que sempre acreditei que seria um dos mais difíceis e que, semana passada, eu infelizmente vivi.
A dor da perda é uma dor muito intensa. Mais ainda quando se trata da perda de alguém tão querido, alguém que esteve ao seu lado em momentos tão duros e que lhe carregou no colo, lhe pôs pra dormir, assistiu a suas mais tolas brincadeiras como se fossem as maiores obras da sétima arte.
Perdi minha tão querida avó, a quem com muito amor chamava de mãe, por ter sido ela tão importante na minha criação. Já faz uma semana, mas em meu coração sinto ainda muito forte a angústia da perda. Meus olhos, ao verem tudo que me traz lembranças dela,ainda sentem o ardor das lágrimas já escorridas. É muito intenso e vazio esse sentimento. É difícil aceitar a falta de alguém que outrora acreditei ser imortal.
Por outro lado, é preciso perceber que as pessoas, por mais que as amemos, precisam ir um dia, e vão... As pessoas são como as folhas que caem das árvores em todos os outonos. Para minha tão querida avó, uma mãe incondicional, o outono teve que chegar.

Soneto de separação
(Vinicius de Moraes)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Saturday, January 05, 2008

"She said she would buy the flowers herself" (V. Woolf)

Indeed, she could buy the flowers herself. We all could buy our own flowers ourselves. But what would life be if we used to do it?
Sometimes people forget their own loneliness as if it wasn't growing inside their hearts, their minds, their souls. If she bought the flowers herself, she would feel her loneliness like never before. It'd be very hard and the pain she would feel could certainly rape the only true thing that was in her: her feelings of love. And she would die, or at least, she would think about death (as she did).
And what about him? Would he buy the flowers himself?
Not at all. He had always prefered the silly instead of the true things. And now he is further from the truth than before, which means the flowers will probably not been bought. Nor himself, nor myself... None of us will buy that big and coloured bunch of flowers. But will the flowers always be waiting in that deep vase, full of water?