Wednesday, June 04, 2008

Porque já não há

Porque os nossos passos caminham ao relento sobre folhas secas... Tudo ao redor parece está seco como as folhas caídas ao chão. As árvores perderam o verde; os frutos, já nem lembro se um dia existiram... Se é escuro lá fora; aqui dentro, tudo é névoa... Não há flores. E mesmo se houvesse, não haveria Mrs. Dalloway para comprá-las. As flores murchariam sem que ninguém ao menos as tivesse regado.
E a névoa? Ela está cobrindo tudo, tirando a visão e todos os outros sentidos estão perturbados. Não se sente o cheiro das manhãs, não se sente o gosto do chocolate, não se ouve a melodia do vento, não se sente a textura da face amada, não se vê mais o brilho da lua.
Também não sei se haverá primavera, pois as plantas parecem não querer se mover. Os galhos secos apenas gritam, com vozes desesperadas, e imploram, ardentes e congelados, que algum raio os parta de uma vez. E os gritos ecoam... Tão forte que se ainda houvesse audição, certamente os tímpanos explodiriam.
E já não há xícaras de café deixadas sobre a mesa, não há folhas espalhadas por uma mesa de madeira velha, não há sons, não há desejos, não há súplicas ou declarações de um amor eterno. Não há nada de real porque só ficaram as fantasias de uma primavera florida, de uma mesa de madeira nova com as belas flores postas no mais belo vaso de porcelana... Ficaram fantasias de flores que nunca serão compradas.

No comments: