Saturday, November 29, 2008

Um brinde de frase soltas a um corpo de esperança

Um encontro entre alma e corpo


De repente, não mais que de repente, um sopro de vida, uma esperança cruza o caminho de alguém que está no estacionamento. Tudo isso numa noite escura, meio fria e num estacionamento quase deserto.
E a esperança entra no carro e juntos os dois seguem sob uma atmosfera suave. Enquanto um dá o assunto da conversa; o outro se esforça para não errar a marcha do carro. Enquanto um fala mansamente e com propriedade sobre os assuntos que insere à conversa; o outro pensa em como seria perfeito se os dois corpos se unissem e se fizessem apenas um.
Uma esperança de paixão é o que entra pelos vidros abertos do carro, inundando tudo com a adrenalina que parte do corpo de um que se pergunta se também é adrenalina o que o outro exala. Os dois se olham por diversas vezes, um escuta os comentários do outro sobre arquitetura e sobre "politicagem". As vozes de ambos teimam em denunciar aquele "climinha" de um jogo de paixão no qual não há vencedor, mas apenas duas pessoas inteligentes o suficiente para lançar perguntas e comentários cada vez mais perspicazes. Como numa partida de pingue-pongue, enquanto um comenta o gosto do outro pelas saladas; o outro, por sua vez, comenta as mãos frias de um que não sabe onde pôr as mãos geladas e põe a culpa no vento. Coitado do vento...
Nenhum dos dois tem idéia de onde isso pode chegar, de qual será o desfecho dessa história apaixonante, excitante, perigosa. O que importa, na verdade, é que para um o sopro de esperança em uma paixão vem e o eleva... Coloca-o no ponto mais alto e lhe dá o direito de repetir mais uma vez a fala de Lisa do filme Paixão à Flor da Pele (Wicker Park): "... I feel beautiful tonight...". E de fato, indeed, ele se sentiu belo, extremamente belo, pois o cheiro de paixão no ar o deixava à flor da pele.

Wednesday, November 26, 2008

Um brinde de frases soltas a um corpo vazio

Uma alma sem corpo... Um corpo sem alma...


Pratos de comida que denunciam a gula. Barras e barras de chocolate e litros de coca-cola. Indícios diversos de uma ausência, de um vazio que busca incansavelmente ser preenchido.
Um telefone que não aguenta mais esperar para tocar, uma caixa de mensagens quase vazia (vazia, se não fosse as mensagens da operadora!!!). Músicas tocando... Against all odds, The blower's daughter e por aí vai... Um sono que não é apenas um descanso, mas também a fuga de uma realidade que não parece colorida. Um capítulo da história que teima em ser escrito em preto e branco. Mas se ao menos houvesse Charles Chaplin...
Um coração que espera e precisa, uma mente que sonha e um corpo que arde de tanto sentir frio. Se fosse num circo, o palhaço estaria sem picadeiro e o trapezista não teria mais seu trapézio. E não haveria equilibrista!
É como um vento frio num dia de brisa ou como muito calor num dia de verão. É a neve que insiste em cair num inverno frio. Mas se ao menos o setting fosse Nova York...
Gritos abafados, lágrimas presas, abraços soltos, beijos desencontrados. O in sem o out. Como sentimentos causam tanto estrago? Como pode não haver cor num filme tão criativo?
Um jardim sem flores ou simplesmente um sujeito separado por vírgula de seu predicado.
Ou talvez, letras desejando uma bela frase que lhes traga a segurança que somente algumas palavras podem dar.

Wednesday, November 19, 2008

Aceita um chocolate?

Os últimos dias têm sido muito quentes. A sensação é de que o mundo vai pegar fogo a qualquer momento. Isso me incomoda demais. Eu detesto calor! Para piorar, a temperatura elevada me tira do sério, me deixa nervoso, profundamente chateado e impaciente.
Hoje, além do fogo que parecia me rodear, o dia ainda foi recheado de melancolia, de coisas que me deixam insatisfeito, de pequenos aborrecimentos que juntos tomam proporções catastróficas, e de ausência... Vai saber que ausência é essa. Ontem fui ao shopping e fiz pequenas compras para acalmar um pouco a minha ansiedade (e, por outro lado, aumentar o saldo devedor do cartão de crédito!!). Aproveitei também o ar-condicionado do shopping como se aquilo me proporcionasse a fantasiosa impressão de que na verdade o mundo não está pegando fogo. E vi vitrines e mais vitrines. Comprei cds virgens, mas ainda fiquei aborrecido por não encontrar algum enfeite novo para pôr na minha árvore de Natal. E que Natal será este! Confesso que me aterroriza um pouco pensar que este ano nossa família já não está mais centrada, ou melhor dizendo, que nossa família já não tem mais o seu centro. E ontem, inclusive, seria seu aniversário... Que saudades da presença da minha avó-mãe!
E hoje... Bom, hoje eu fui ao Hiper Bompreço pagar uma conta. Aproveitei que tinha que ir para Intermares dar aula e parei lá. Caminhei um pouco por seus corredores (por um rápido instante tive vontade de fazer uma enorme feira!). Olhei a seção das cuecas, dos dvds e acabei comprando um creme dental e um chocolate suflair. O chocolate foi a melhor coisa do dia... Por um instante minha boca entrando em contato com o chocolate me deu um incontrolável prazer, como se eu estivesse tendo um orgasmo através do paladar. Mas como na maioria dos orgasmos masculinos, o feeling de prazer passou rápido e tudo voltou ao normal: o calor, a melancolia, os suspiros de meia satisfação. Senti-me como se o bonde da vida tivesse dado uma arrancada súbita e meu saco de tricô tivesse sido lançado ao chão. Da mesma forma que Ana (personagem do conto Amor de Clarice Lispector) senti que tudo era um fio partido.
E ainda estou sentindo... Sentindo a ausência de uma voz docemente sensual ao meu ouvido, de mãos firmes o suficiente para segurar os mantimentos contidos no meu saco de tricô, e da completude sentimental e física que só outro corpo pode oferecer. A ausência da paixão me dilacera!
Só agora me dou conta de que deveria ter comprado outro chocolate suflair.

Thursday, November 13, 2008

Cem vezes com sentimentos

Dedicado a Ana Adelaide
Antes de mais nada, quero justificar a dedicatória. Hoje eu tive o prazer de ler algumas crônicas desta brilhante professora a quem estou dedicando esta postagem. Ao ler as crônicas, tive sempre nítida a imagem de seu sorriso, como se ela estivesse me contando, pessoalmente, o que estava escrito em seu texto. Pela imagem e pela inspiração, resolvi fazer a dedicatória.
Esta é a minha centésima postagem neste blog. Entre os cem textos escritos aqui eu posso achar muito de mim mesmo. Posso matar as saudades de coisas que já ficaram no passado, posso revivê-las sentindo a mesma emoção de quando aconteceram. Posso lembrar também de frases, citações que para este espaço transcrevi. Posso olhar das primeiras postagens às últimas e redescobrir sonhos de um adolescente que se confundem com os sonhos de um homem jovem, que em muitas coisas não acredita mais. Há muitos sentimentos depositados nas letras que já escrevi... Quantas tristezas! Quantas paixões! Posso arriscar que minhas cem postagens são provas de pelo menos três paixões.
Ultrapassando os limites emocionais, eu posso, sem falsa modéstia, perceber o quanto amadureci como homem e também como um escritor. Eu sempre escrevi os meus sentimentos... Eu escrevo com o que sinto e mais nada. Mas, ainda assim, é preciso dizer que a forma como eu organizo minhas idéias hoje, as palavras que uso são diferentes das palavras que eu usava nas primeiras postagens. Acredito que devo isto às leituras que fiz ao longo dos últimos anos. Devo muito também - no que diz respeito ao modo como exponho meus sentimentos - às pessoas delicadas e sensíveis com as quais tive o imenso prazer de conviver. Ah, se o mundo inteiro tivesse a abstração de Eveline! Ah, se o mundo inteiro tivesse a delicada e deslumbrante sensibilidade de Ana Adelaide! E não vou esquecer... Não posso desconsiderar o toque da entorpecente racionalidade de Áurea.
Posso voar em minhas palavras. Sinto que minhas letras são como pássaros que voam alto, bem alto... E não me importo se serei lido ou não. A única coisa com a qual me importo é alcançar o horizonte de meus sentimentos mais íntimos.
Sentir me basta!

Sunday, November 02, 2008

Shakespeare que estava certo

Como já disse anteriormente, ontem eu encontrei alguém do passado... Parece-me deveras irônico encontrar um "defunto" na véspera do dia de Finados!!! Pensei sobre isso hoje e talvez tudo esteja muito bem arquitetado como num grande espetáculo teatral onde cada um dos vários personagens tem muito bem marcadas as suas entradas no palco da peça.
Nós somos personagens de uma história previamente escrita? Ou somos personagens de uma história que aos poucos toma forma? Por que tudo é tão brilhantemente perfeito? Por que cada entrada é tão perfeitamente ensaiada? Quando foi que nós ensaiamos as cenas dessa vida tão incerta?
E continuo me perguntando... Por que após o ensaio nós não corrigimos as falhas antes que elas fossem ao ar?
Não sei responder as íntimas questões que trouxe hoje, só sei que acredito nas palavras de Shakespeare: "All the world is a stage".

Como no mito do eterno retorno

É bem verdade que o tempo carrega sentimentos e faz com que algumas dores sejam curadas. Mas quem pode garantir que o passado não mais se colocará a sua porta?
O passado pode aparecer no seu caminho e fazer você dar a volta. Uma volta ao que está preso ao passado, ao sentimento que estava deixado de lado. Pior ainda é perceber que nada do passado mudou. É como se, não havendo prazo de validade, o que já foi tivesse sido guardado na geladeira para ser descongelado depois. Oh, ponto de ônibus, como assumiste bem o papel de um microondas!!!
E dar a volta esteve além do simbólico... ou além do concreto... Não sei! Sei que uma marca intensa do passado cruzou meu caminho e trouxe muitas lembranças. Uma visão real puxou visões imaginárias de cenas de um pretérito imperfeito, por não ser acabado.
Um passado louro, que continua reluzindo como o sol.