Nunca gostei muito de feijão.
Quando eu era criança, eu não gostava da casquinha, queria apenas a massa. Mas também não dava para pedir que alguém tirasse aquela casquinha e me desse apenas a massa que eu suportava comer.
Vejo que na vida há sempre preferências por massas ou por cascas. Às vezes, você deseja muito uma coisa e acredita que ela só possa estar em um determinado lugar ou que só a massa possa ser saborosa. E é difícil desconstruir idéias, conceitos previamente estabelecidos.
É como se você acreditasse que o cachorro é o animal que toma conta da casa e o gato é aquele que roça em suas pernas o tempo todo, sem jamais pensar que o gato também pode proteger e que o cachorro também pode roçar em suas pernas. Tudo que foge ao que nós acreditamos é surpresa e, algumas da surpresas que a vida nos traz são muito boas.
Mas esperar a surpresa??? Talvez esteja aí uma grande dificuldade nossa... As surpresas simplesmente são surpresas e não marcam hora no dentista nem no salão de beleza. A surpresa vem determinada por uma decisão que você toma em um segundo. É algo tão rápido que você só se dá conta depois que aconteceu. Mas é tão intenso quanto o prazer da música favorita. E é forte quanto o abraço que você mais desejou.
Eu desejei abraços que vieram da surpresa.
A partir de agora eu tentarei não separar a casquinha da massa. Minha surpresa pode estar na completude do feijão.
1 comment:
Filosófico, né?
Música de Caimy:
"Todo mundo gosta de acarajé... o trabalho que dá pra fazer é que é/
Todo mundo gosta de abará, ninguém quer saber o trabalho que dá..." Bahiano sábio. O trabalho que ninguém quer é justamente tirar a "casquinha" do feijão.
Você é mais feliz que os acarajés e abarás mais gostosos, pois tem a completude do feijão. Parabéns!
Post a Comment