Monday, June 30, 2008

Epifania definitiva

Acredito que todos nós um dia já tivemos (e se não tivemos, teremos um dia) a surpreendente e cruel descoberta de que caminhamos para o fim. Para mim, não sei se tal reflexão veio cedo ou tarde. Sei, porém, que desde que assisti, há algumas semanas atrás, ao documentário "Nós que aqui estamos, por vós esperamos", do diretor Marcelo Masagão, que comecei a entrar neste canal de pensamento. O documentário é uma espécie de retrospectiva do que foi o século XX, com todas as suas glórias e, principalmente, com todas as suas desgraças; e na última cena do filme, o diretor traz uma sacada inteligentíssima sobre o que é a vida e nos mostra que o fim do caminho que percorremos durante toda a vida é o fim, literalmente.
Mas as recordações, as reflexões que tive a partir do filme foram ficando guardadas, adormecidas; muito embora tenham sido responsáveis por uma forte descarga emocional. No último sábado, tudo veio à tona. De maneira forte e avassaladora, a idéia do fim surgiu em meus pensamentos sob um fluxo de consciência. E o mais engraçado de tudo isso é que as águas que me afundaram neste fluxo foram trazidas pelo espelho do meu banheiro.
Após o banho, olhei-me no espelho e percebi que, por mais que ainda tenha um rosto jovem, este já é bem diferente do rosto daquele menino que lá no fim do século XX esperava pelo ano 2000, quando completaria 13 anos. Percebi que meu rosto ainda mudará muito, virão as rugas, as marcas do tempo... A pele não será a mesma por mais dinheiro que eu gaste com cremes e produtos contra envelhecimento. Nenhuma cirurgia deixa cicatrizes tão acentuadas quanto o tempo!
Vi por aquele espelho todas as minhas preocupações e angústias. Vi as desilusões, vi a correria do dia-a-dia maluco que levo. Vi a face de alguns professores que muito exigem, vi a face de alguns alunos que muito aborrecem. Vi as exigências, os prazos. Ouvi as lágrimas de uma vida repleta de dificuldades e decepções. Senti o sabor amargo das frustrações de um homem que, embora esteja prestes a completar vinte e uma primaveras, já perdeu muito, já chorou muito, e que de certo modo sente as costas doerem como se nelas estivessem depositadas mais de trinta primaveras.
E no mais profundo instante do meu momento epifânico, enxerguei pelo espelho a coisa mais cruel que meus olhos já enxergaram: vi que nada importa! Não importa o que façamos, o quanto nos preocupemos, o quanto soframos ou choremos. Não importa o quanto trabalhemos, nem o quanto em cremes anti-rugas gastemos. A trilha que seguimos é única e muito estreita. E é ela que levará todos nós ao clímax do romance da vida: a morte!

Thursday, June 12, 2008

"I will always love you somehow"

Thursday, June 05, 2008

Cheers!

"Meu corpo é a taça para um vinho já derramado". (J.M. Júnior)



Queria beber uma taça de vinho apenas. Sentir o gosto suavemente pela minha boca e depois repousar na certeza do infinito...

"To look life in the face, always, to look life in the face. And to know it, for what it is, and at last to love it, for what it is, and then, to put it away...
Always the years between us, always the years... always, the love... always, the hours". (Virginia Woolf)

Today

Fui à cozinha depois de acordar e, pela janela, vi o sol... Enfim um dia sem chuva, um pouco mais quente até. Pelo menos a temperatura está agradável.
Mas ainda há muito gelo se derretendo dentro das veias da alma...

Wednesday, June 04, 2008

Porque já não há

Porque os nossos passos caminham ao relento sobre folhas secas... Tudo ao redor parece está seco como as folhas caídas ao chão. As árvores perderam o verde; os frutos, já nem lembro se um dia existiram... Se é escuro lá fora; aqui dentro, tudo é névoa... Não há flores. E mesmo se houvesse, não haveria Mrs. Dalloway para comprá-las. As flores murchariam sem que ninguém ao menos as tivesse regado.
E a névoa? Ela está cobrindo tudo, tirando a visão e todos os outros sentidos estão perturbados. Não se sente o cheiro das manhãs, não se sente o gosto do chocolate, não se ouve a melodia do vento, não se sente a textura da face amada, não se vê mais o brilho da lua.
Também não sei se haverá primavera, pois as plantas parecem não querer se mover. Os galhos secos apenas gritam, com vozes desesperadas, e imploram, ardentes e congelados, que algum raio os parta de uma vez. E os gritos ecoam... Tão forte que se ainda houvesse audição, certamente os tímpanos explodiriam.
E já não há xícaras de café deixadas sobre a mesa, não há folhas espalhadas por uma mesa de madeira velha, não há sons, não há desejos, não há súplicas ou declarações de um amor eterno. Não há nada de real porque só ficaram as fantasias de uma primavera florida, de uma mesa de madeira nova com as belas flores postas no mais belo vaso de porcelana... Ficaram fantasias de flores que nunca serão compradas.