Acredito que todos nós um dia já tivemos (e se não tivemos, teremos um dia) a surpreendente e cruel descoberta de que caminhamos para o fim. Para mim, não sei se tal reflexão veio cedo ou tarde. Sei, porém, que desde que assisti, há algumas semanas atrás, ao documentário "Nós que aqui estamos, por vós esperamos", do diretor Marcelo Masagão, que comecei a entrar neste canal de pensamento. O documentário é uma espécie de retrospectiva do que foi o século XX, com todas as suas glórias e, principalmente, com todas as suas desgraças; e na última cena do filme, o diretor traz uma sacada inteligentíssima sobre o que é a vida e nos mostra que o fim do caminho que percorremos durante toda a vida é o fim, literalmente.
Mas as recordações, as reflexões que tive a partir do filme foram ficando guardadas, adormecidas; muito embora tenham sido responsáveis por uma forte descarga emocional. No último sábado, tudo veio à tona. De maneira forte e avassaladora, a idéia do fim surgiu em meus pensamentos sob um fluxo de consciência. E o mais engraçado de tudo isso é que as águas que me afundaram neste fluxo foram trazidas pelo espelho do meu banheiro.
Após o banho, olhei-me no espelho e percebi que, por mais que ainda tenha um rosto jovem, este já é bem diferente do rosto daquele menino que lá no fim do século XX esperava pelo ano 2000, quando completaria 13 anos. Percebi que meu rosto ainda mudará muito, virão as rugas, as marcas do tempo... A pele não será a mesma por mais dinheiro que eu gaste com cremes e produtos contra envelhecimento. Nenhuma cirurgia deixa cicatrizes tão acentuadas quanto o tempo!
Vi por aquele espelho todas as minhas preocupações e angústias. Vi as desilusões, vi a correria do dia-a-dia maluco que levo. Vi a face de alguns professores que muito exigem, vi a face de alguns alunos que muito aborrecem. Vi as exigências, os prazos. Ouvi as lágrimas de uma vida repleta de dificuldades e decepções. Senti o sabor amargo das frustrações de um homem que, embora esteja prestes a completar vinte e uma primaveras, já perdeu muito, já chorou muito, e que de certo modo sente as costas doerem como se nelas estivessem depositadas mais de trinta primaveras.
E no mais profundo instante do meu momento epifânico, enxerguei pelo espelho a coisa mais cruel que meus olhos já enxergaram: vi que nada importa! Não importa o que façamos, o quanto nos preocupemos, o quanto soframos ou choremos. Não importa o quanto trabalhemos, nem o quanto em cremes anti-rugas gastemos. A trilha que seguimos é única e muito estreita. E é ela que levará todos nós ao clímax do romance da vida: a morte!