É deveras estranho ou talvez absurdamente óbvio o fato de eu achar o mundo poético. Na verdade é como se cada dia fosse um verso; as etapas da vida, uma estrofe; e a vida inteira, um imenso poema. Sendo poesia, os tais versos da vida são livres e brancos, não seguem métrica nem rimam entre si. A vida tem uma melodia surpreendentemente construída sem rimas e sem arranjos poéticos. Não há nada de clássico. Há apenas um desejo que segue por entre as linhas. Existe desde o primeiro dia até o dia final um sentimento que não se traduz e que dificilmente alguém entenderá. Pois é, morremos e não entendemos o tal desejo, que sufoca, tira o fôlego, levando embora qualquer vestígio de ar.
Há momentos nos quais eu sinto estranho tudo o que pareceria óbvio. É uma sensação vaga, angustiante por ser vaga. Parece-me, certas vezes, que não sei o caminho, ou que não existe caminho. Por esta e aquela razões, parece-me que meu corpo está parado e que a vida perdeu o rumo.
Tudo, às vezes, é uma questão de sentir que se sente, mas por não enteder, sente-se que não há sentimento algum. É tudo um oco infinito. Um hole, pois em Inglês o som da palavra parece mais poético, e como disse no início, a vida me parece poesia.