Saturday, January 23, 2010

De pele

Ao som de John Legend, a descoberta desta noite.

Cheiro a banho. Por debaixo da minha toalha mal colocada há um corpo que exala o cheiro do sabonete. Corpo recém-lavado. Corpo que saiu há pouco tempo de um encontro magnífico com suas próprias mãos que espalhavam deslizantemente o sabonete. Ouço música agora e espero alguma coisa. Não sei bem o quê, mas espero. Ouço a música, penetrando os meus ouvidos e imagino outros movimentos. E minha pele está macia. Pele de quem saiu do banho. Minha pele está, antes de tudo, limpa, pura. Estou nu, a esperar e a permitir que a música invada o meu corpo. Minha nudez cheira à espuma do sabonete que escorreu sobre cada pedaço do meu corpo. Minha nudez é limpa. É nudez de quem espera algo, mas não sabe o quê. Minha nudez não será castigada.

Tuesday, January 19, 2010

Algo sobre relacionamento


Relacionamentos constituem desde sempre uma importante marca, não apenas da humanidade, mas de tudo o que nos cerca. Nós nos relacionamos amorosamente com alguém que escolhemos, nos relacionamos com amigos, nos relacionamos com o balconista da padaria... Enfim, nós nos relacionamos e isso talvez seja uma das maiores verdades.
A grande verdade por dentro dos relacionamentos, porém, está na peculiaridade de cada um. Os limites da relação, o jeito de lidar com o outro, e até mesmo a necessidade que se tem de manter um determinado relacionamento são fatores que definem as redes de relacionamento das quais fazemos parte.
Se beijamos na boca, é uma relação física, que mais tem a ver com a intimidade entre dois que com a busca por serviços, como quando pedimos, por telefone, um botijão de gás e interagimos com a pessoa que está do outro lado da linha. Um aperto de mão (pelo menos no mundo ocidental) está muito ligado ao respeito. Quando entre dois homens e, principalmente se vier acompanhado de um abraço com tapinhas nas costas, pode indicar uma relação de amizade. E em meio a gestos e palavras características os relacionamentos constituem-se em qualquer lugar e a todo momento. Interação pura, atemporal e intencional!
Alguns relacionamentos são mais frequentes que outros. Quando moramos com outra(s) pessoa(s) a interação com essa(s) pessoa(s) é algo inevitável. Seja simples ou não, o relacionamento entre pessoas que vivem em um mesma casa é um dos relacionamentos mais frequentes de todos. (Dou um exemplo próprio: parei de escrever por alguns minutos porque minha adorável mãe bateu à porta para fazer mais uma de suas perguntas).
Voltando à frequência dos relacionamentos, também há alguns que não são tão frequentes e que se estabelecem, por exemplo, quando duas ou mais pessoas se encontram, mas que nem por isso deixam de ter seus gestos, olhares e frases típicas. Dois beijinhos para indicar uma maior intimidade: típico entre mulheres, entre um homem e uma mulher, e, nos últimos tempos, típico também entre homens. Um aperto de mão: típico de quando duas pessoas são apresentadas, ou quando há maior cordialidade. E no curioso campo dos relacionamentos até a buzina vira meio de cumprimentar o outro, mostrando as infinitas possibilidades de se relacionar e interagir com os outros. Torçamos para que as redes tecnológicas de relacionamentos não destruam a capacidade nossa de interagir.
Torçamos também para que um relacionamento não interfira no outro e que para tudo haja seu lugar. Torçamos para que além da capacidade de se relacionar, haja em nós também a capacidade de pôr limites àqueles com quem mantemos relacionamentos. Torçamos para que os amigos não briguem entre si por atenção, para que parentes não se confrontem pelo primeiro pedaço do bolo nos nossos aniversários e para que os namorados (as) de nossos(as) amigos(as) não interfiram no relacionamento com nossos amigos.

Thursday, January 14, 2010

Desejos


"Eles eram mais antigos que o silêncio"
Namorados no mirante,
Vinicius de Moraes

Porque te olhar me faz querer sentir teu beijo. Ver-te em frente a mim, me faz querer correr aos teus braços e ser envolvido por eles. Ouvir tua voz me faz querer ouvi-la novamente, só que em sussurros. Teus passos, indo e vindo, me fazem querer caminhar na estrada que leve ao teu desejo. Teus olhos, quando brilham, me trazem o desejo de descobrir quem tu és. Teu silêncio me faz querer descobrir o que tu queres. Pensar em te beijar, em estar em teus braços, em ouvir tua voz sussurada é quase como uma explosão dentro de meu eu inquieto. Desejar-te, por horas sem descanso, arrepia minha alma e faz sumir dentro de meu desejo insistente o medo de ser descoberto. Teus olhos, tua boca, tuas mãos... Teu corpo me faz arder em um desejo tórrido de atirar-me no teu precipício, e ter de ti o despertar de meus desejos.

Thursday, January 07, 2010

Acesas as chamas


Rumo ao fim da primeira semana de um novo ano, as expectativas e os desejos parecem estar acesos como nunca dentro do coração e da mente de todos. Uns se empenham para cumprir as metas traçadas nos últimos minutos do ano que acabou; outros, aguardam a vida trazer as novas esperanças para que as metas possam surgir.
Também é uma verdade indiscutível que para algumas pessoas as mágoas do ano passado ainda estão presentes, causando dor, muita dor. Deve ser normal. É, no mínimo, humano, pois a ilusão de que tudo muda quando o calendário é trocado não passa mesmo de uma doce ilusão, que se torna menos amarga na boca dos que sofrem e optam por fechar os olhos.
As angústias, as decepções, as frustrações... Todas continuam as mesmas. Não é o gesto de rasgar a folha de dezembro que faz tudo mudar. Não são as preces ou metas traçadas para o novo ano que carregam, como mar em ressaca de janeiro, aquilo que mais dói no peito de cada um. E cada um tem sua dor no peito. Pena que a virada da folha de dezembro também não se especializou em cardiologia...
Porém, para não agir com tanto pessimismo (porque a realidade para uns soa como pessimismo), pode-se ver que as chamas estão acesas através do bom e velho jargão: "Ano novo: vida nova". Não dá para entender muito bem esta frase feita. Vida nova só para quem acabou de nascer. A vida pode mudar, mas rejuvenescer: jamais! O tempo não é bumerangue!
Mas as chamas estão acesas e isso é o que importa. Com frase feita ou não, há no início de cada ano a presença do vermelho. Em países como o Brasil, onde é verão nesta época do ano, o calor do sol lembra a vermelhidão e anuncia que as chamas estão acessas e prontas para incendiar a vida de todos que decidem por traçar metas, que guiarão o ano que se inicia.
Então, vamos lá! Optemos por acender as chamas e mantê-las acesas. Optemos pelas ruivas nesse início de ano. Tornem-se ruivas nesse início de ano. Ou agarremos um ruivo nesse início de ano...