Saturday, August 01, 2009

Como água

Eu ainda lembro daquele menino de cueca brincando no chão da sala. Um saco de brinquedos embrulhados em sonhos. Havia lugar para todo tipo de brincadeira. O dia corria suave através daquelas brincadeiras perfeitas.
Era um menino que não precisava de outros para brincar, para se sentir feliz. Tardes inteiras, pedaços de noites e fins de semana eram preenchidos por peças e mais peças de brinquedos espalhados pelo chão... Fora o tapete! "Mãe, ela colocou o tapete de novo!", e Mãe dizia: "Tire, meu filho, e vá brincar!". E o menino tirava suas fardas de estudante dedicado e rendia-se à bagunça que só ele entendia.
Mesmo quando o fim da tarde chegava, a hora do banho, a brincadeira não acabava. Era transferida do beco, cenário para todas as brincadeiras reais e também para as roteirizadas, para o banheiro, onde seu gosto pelo canto se fazia presente. Ele sempre cantou muito!!! Da porta para dentro era tudo canção. Da porta para fora: "Menino, desligue esse chuveiro!".
Foi entre uma brincadeira e outra; entre uma canção e outra, que o menino cresceu. Abandonou o hábito de ficar de cueca pela casa. Foi descobrindo o corpo que resolveu se cobrir. Não brinca mais (será mesmo?) nem tem muito tempo para cantar no chuveiro. Alguns dos sonhos que embrulhavam brinquedos se perderam pelo caminho dos anos e nem mesmo ele sabe onde encontrá-los de novo. O tempo passou. Sempre passa! O menino se fez homem e a vida segue em seu ritmo de correnteza.

1 comment:

Roberto said...

O menino se torna um literato, e descobre em Machado que o "menino é o pai do Homem". Não no sentido do enredo, mas no sentido existencial mesmo. Parabéns!! Se voce então brincava sozinho e cantava para as águas, quem sabe descobrirá outros jogos e canções que exigem a parceria. É a vida quem pode dizer isto. Mas é certo que ela lhe quer feliz, garoto de cuecas!!