Monday, March 29, 2010

Mas ele não sabe nada de Linguística


Porque a aquele cara olhava-se no espelho para enxergar seu corpo perfeitamente definido. Não tive tempo de olhar, ou apenas não quis. Sabia que ele estava ali e isso já me era o bastante. Talvez não tenha sido minha vontade ver para não mostrá-lo a admiração que ele buscava ao exibir-se. Não é mais de mim mostrar admiração deste tipo. Vê-lo e, permitir que ele sentisse a si mesmo como alguém visto e admirado, faria de mim apenas mais um no meio daqueles corpos ansiosos por definição física. Muito embora admirasse alguns dos corpos ali exibidos, não queria ser nenhum deles, pois eles não sabem nada sobre Linguística.
Mas saber que ele estava ali, exibindo seu corpo a si mesmo diante de um espelho enorme que tomava a parede por completo me causou dúvidas. Considerei que algumas coisas em mim devem estar erradas, ou pelo menos não devem estar certas. (E nesse ponto, insisto que não estar certo é diferente de estar errado!) Talvez a velocidade das coisas não esteja certa. Ou talvez seja a busca incansável por uma completude que cada vez mais me parece inatingível. Talvez esteja errada a crença infantil de que há felicidade completa. Talvez não esteja certo acreditar que se pode ter tudo e que ao nascer, nascemos para ter sucesso em tudo.
Porém, não deve ter sido só aquele cara frente ao espelho, foi mais que isso... Foram coisas que têm causado angústia e mostrado a necessidade de aprender (e buscar ajuda para isso) a se equilibrar nas cordas mais bambas de todas: as cordas de cada dia.
Lembro agora das dúvidas completas, das incertezas, das faltas e também do sucesso. Lembro do pó espalhado pelo chão do quarto e das roupas que precisam ser lavadas. Preciso apenas lembrar cada vez mais de mim.

2 comments:

Letícia Palmeira said...

Muito bom. Li, dei um sorriso de reconhecimento - porque tb sou moldada por um monte de princípios que não cabem nesse mundo.

Amigo, você me fez pensar. O certo que não é exatamente certo e, nem por isso será errado. A gente é programado a sentir coisas, acreditar em outras e esperar que coisas caiam dos céus.

Isso me fez lembrar da música Losing my Religion. No caso do seu texto, o personagem só tem o corpo a ser exibido, mas, em outros tantos conceitos, muitos nem isso têm. E não sabem nem de si.

Muito bom mesmo.

E cuidar de si é questão de auto-amor. Admiro isso. Narciso também. Somos Narcisos, mas não nos afogamos em nós mesmos.


Beijo. =)

Juliana Matos. said...

A beleza é uma corda bamba, onde o perigo é cair, mais a simplicidade e a forma sutil de ser nos faz caminhar mais seguramente!
Um abraço Júnior! Bela páscoa pra vc!